Qual é a principal novidade desse relatório?
Marengo - Alguns aspectos regionais ficaram mais claros: o que podemos esperar de impactos e como lidar com eles. Foi criada uma classificação do tamanho do impacto com e sem adaptação. Um determinado risco pode ser menor com adaptação. Já para outros, não há o que fazer. Por exemplo, se acabar a água das geleiras andinas, teremos de buscar outras fontes. É um problema que vai desencadear conflitos. Pense na seca em São Paulo.
Mas não pode haver uma guerra de verdade por água?
Marengo - No passado tivemos guerras por recursos naturais - e a água é o principal deles. Mas aqueles saques que vemos no Nordeste são uma forma de conflito. Não temos de esperar pelo futuro, já está acontecendo em algumas áreas, principalmente nas mais vulneráveis - que são as mais pobres. Aí entram as discussões sobre adaptação, que deveriam ser patrocinadas pelos governos e pelo setor privado. Não há uma fórmula única de adaptação, e isso é o que torna tudo mais complexo.
O relatório traz muitas mensagens sobre os impactos num cenário de mais 4°C de aumento de temperatura. O painel acha que esse é o cenário mais provável?
Marengo - A questão dos 4°C é um caso de futuro que não queremos. Pode ser difícil entender quando falamos em cenário, mas não quando citamos 4°C a mais: é quente demais, pode ter impactos em muitos lugares. As mensagens do sumário falam o que pode acontecer com os 4°C a mais, como um nível mais catastrófico.
E quanto ao capítulo sobre América Central e do Sul, há mudanças em relação a 2007?
Marengo - Identificamos um maior número de impactos; não só enchentes, inundações, secas e danos a ecossistemas, mas também impactos sociais, nas áreas urbanas. As mulheres aparecem como as mais vulneráveis, pois, em muitos casos, permanecem em casa. Não veem quando uma enchente ou um deslizamento está chegando.
Também mudou a percepção de como a Amazônia será afetada.
Marengo - Sim, o risco de savanização ficou um pouco afastado. Era um modelo que mostrava aquilo. Depois, novos modelos apontaram que pode haver uma redução de chuvas, mas é justamente na parte do arco do desmatamento, que já está mais degradada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..