Jornal Estado de Minas

Relatório aponta superfaturamento de R$ 431 mi nas obras do Mané Garrincha

A auditoria feita pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal indica irregularidades na construção do Estádio Nacional de Brasília

Correio Braziliense
Um relatório do Tribunal de Contas do Distrito Federal apontou possíveis irregularidades nos gastos para a construção do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha.
De acordo com o documento publicado neste domingo (16/3) pelo jornal Folha de São Paulo e posteriomente divulgado no site oficial do órgão, há indícios de superfaturamento de R$ 431 milhões na execução da obra, o que elevaria o investimento total do estádio para aproximadamente R$ 1,9 bilhão.

Segundo os dados colhidos pelo tribunal durante visitas e por análise de contratos, o custo do estádio dobrou desde o início da obra. A previsão inicial, em 2010, era de aproximadamente R$ 700 milhões e, atualmente, o valor oficial é de R$ 1,4 bilhão. A análise mostra supostos gastos excessivos para justificar a mudança de valores. Entre eles, desperdício de materiais, erro no cálculo do transporte de peças, aluguel de caminhões a mais, atraso na isenção de impostos e o fato de o governo ter livrado o consórcio responsável de pagar multa por atraso.

Por meio de nota, a Coordenadoria de Comunicação para a Copa nega as irregularidades e a denúncia de superfaturamento. De acordo com o governo, o relatório do TCDF é preliminar e lista itens pontuais para esclarecimentos da Novacap e do Consórcio Brasília 2014. “O valor do investimento no estádio não aumentou. Destacamos que o investimento total é de R$ 1,4 bilhão, e ainda pode ser reduzido para R$ 1,2 bilhão em virtude da previsão de abatimento de créditos do Regime Especial de Tributação para Construção, Ampliação, Reforma ou Modernização dos Estádios de Futebol (Recopa)”, diz o comunicado.

Em relação ao aumento do valor previsto em 2010, a coordenadoria alega que os custos para a construção do estádio na época eram relacionadas apenas ao esqueleto do estádio.
“Não é correto afirmar que R$ 670 milhões eram o valor total previsto para a construção. E é preciso destacar que a obra foi contratada a partir de licitações distintas. A primeira delas, no valor de R$ 696 milhões, foi assinada em 2010 entre o Governo do Distrito Federal (GDF) e o Consórcio Brasília 2014, responsável pela obra civil”, completa.

Pontos do relatório
O cálculo de transporte de materiais pré-moldados no canteiro de obras, apontado como uma das irregularidades, gerou prejuízo estimado de R$ 879 mil, de acordo com o relatório. Os auditores dizem no documento que o custo foi calculado em R$ 592 por metro cúbido desses materiais, quando deveria ser de R$ 3,70. Além disso, no contrato, a fábrica responsável pelas peças, que fica a 1,5 quilômetro do estádio, aparece com a distância de 240 quilômetros.

Desperdícios de materiais e métodos ineficientes também estão relacionados na auditoria. Eles teriam custado R$ 62 milhões. Já o excesso de aluguel de caminhões teria causado gasto de R$ 7 milhões.

O documento também trata do atraso na obra causado pela empreiteira. A análise indica que o governo do Distrito Federal deveria ter recebido R$ 35 milhões de multa do consórcio. No entanto, o valor nunca foi cobrado. O GDF considera que não houve atraso na entrega da arena. “Na concepção do projeto, Brasília receberia apenas jogos da Copa do Mundo de 2014, o que mudou com a escolha da cidade para ser sede da abertura da Copa das Confederações, em 15 de junho de 2013. A inauguração em 18 de maio de 2013, com a partida final do Campeonato Candango, representou a antecipação do cronograma”, afirma a nota.

O governo também teria perdido a oportunidade de economizar R$ 39 milhões com descontos em impostos previstos em legislação. Porém, os pedidos tiveram atraso de 14 meses, segundo o TCDF.

O relatório ainda aponta que algumas licitações relacionadas ao Mané Garrincha não foram concluídas.
O TCDF espera o posicionamento do governo, que tem um prazo de 120 dias contados a partir de janeiro para se explicar oficialmente. Desde 2010, o tribunal faz auditorias e conseguiu reduzir R$ 179 milhões os custos da obra..