Jornal Estado de Minas

Moradores denunciam que teleférico da Providência virou "telepombo"

Teleférico pronto mas sem uso, mais atrapalha que ajuda moradores da comunidade

Agência Brasil
Concluído há quase dez meses, o teleférico do Morro da Providência, construído pela prefeitura na primeira favela do Rio de Janeiro, ainda não saiu oficialmente dos trilhos.
“Virou um telepombo”, disse nesta quinta-feira (13) à Agência Brasil o morador Antonio José Vieira, há 24 anos no local. “A gente tem que saber para que ele está pronto. Se é para carregar gente ou para ficar aí atrapalhando o povo que passa. No momento, não está servindo para nada. É inútil”.

Vieira concordou que o projeto inicial, apresentado pela prefeitura, previa vantagens para os habitantes do morro, porque permitiria o transporte rápido das pessoas, em torno de cinco minutos, entre o alto do morro e as estações da Central do Brasil e da Cidade do Samba, na Gamboa.

Outro morador, conhecido como “Pretinho” (ele não quis revelar o nome), há 34 anos na comunidade, lembrou que grande parte dos habitantes protestou contra o teleférico, quando conheceu o projeto. Uma das razões para isso é que a principal estação, no alto do morro, foi construída na antiga Praça Américo Brum, onde as pessoas costumavam se reunir nos fins de semana. “Todo domingo era o nosso lazer.
O projeto não serve para nada. Só tirou o lazer das crianças, das pessoas da terceira idade. E virou casa de pombos”, disse ele.

Antonio José Vieira acrescentou que o espaço gradeado, localizado em frente ao teleférico, onde a prefeitura havia prometido erguer um centro de lazer para as crianças, em substituição à extinta pracinha, não saiu até agora do papel. “Nem tem teleférico, nem tem mais praça; até agora não tem nada”. Avaliou, entretanto, que se vier a funcionar, vai ser bom para a comunidade, que não dependerá só das kombis que circulam no local. “Vai facilitar a vida, principalmente dos idosos. É útil”. Ele pediu ao prefeito Eduardo Paes que dê prioridade ao projeto do teleférico.

Na avaliação de Edcleide de Aguiar, que foi para o Morro da Providência há 24 anos, nada vai para a frente ali. “Eu vejo os outros indo para a frente, e a Providência só indo para baixo”, criticou. Ela demonstrou pessimismo sobre a entrada do teleférico em operação. “Parou ali, e acho que a tendência é piorar”, disse ela, e salientou que o Morro da Providência foi esquecido pelas autoridades. Admitiu, no entanto, que o teleférico poderia ser importante para os moradores, poque atrairia mais turistas e, em consequência, progresso para o lugar.

Procurada pela Agência Brasil, a prefeitura informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que falta definir a empresa que cuidará da operação do teleférico, de responsabilidade da Secretaria Municipal de Habitação, no âmbito do programa Morar Carioca, de urbanização de favelas.

O teleférico tem 721 metros, e foi concebido com o objetivo de melhorar a acessibilidade a um dos morros mais íngremes do Rio. O equipamento terá capacidade para transportar até mil pessoas por hora em cada sentido.
As obras de urbanização do Morar Carioca, no Morro da Providência, custaram R$ 163 milhões, dos quais R$ 75 milhões doram gastos na implantação do teleférico..