Jornal Estado de Minas

STF derruba pedido de João Gilberto para impedir biografia

Supremo Tribunal Federal derruba última tentativa do artista de proibir livro não autorizado

Foi enterrada pelo Supremo Tribunal Federal a última tentativa do cantor e compositor baiano João Gilberto de proibir sua biografia não autorizada, de Walter Garcia, editada pela Cosac Naify. Em decisão tomada no dia 8, o STF rejeitou definitivamente a reclamação do artista contra a editora. Ele havia notificado judicialmente a editora à época do lançamento do livro João Gilberto, em junho de 2012, sobre uma possível retirada da obra de circulação.

A decisão pode ser um prenúncio de como o STF decidirá no caso das biografias não autorizadas. É a primeira vez que uma ação desse tipo chega à Suprema Corte. Em julho, João Gilberto já havia perdido na 9.ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo. Ele tinha pedido liminar de busca e apreensão do volume nas livrarias, o que foi negado. O papa da bossa nova ainda teve de arcar com as custas e honorários do processo.
João Gilberto argumentava que o livro de Garcia apresentava “conteúdo ofensivo à imagem e intimidade, por meio de exposição não autorizada do retrato pessoal do autor”. Ele vê também “calúnia e difamação” no trabalho, dizendo que o autor passa uma ideia de “homem displicente no cumprimento de suas obrigações trabalhistas, de alguém que emite conceitos desfavoráveis a outras figuras artísticas” e que João é “acometido de neurose obsessiva e paranoia”.

O livro de Garcia é dividido em quatro partes, apresenta uma seleção de entrevistas concedidas pelo cantor e depoimentos de pessoas próximas, como Dorival Caymmi e Vinicius de Moraes. Apresenta também ensaios e textos críticos escritos especialmente para a edição, de eles Caetano Veloso, Mário Sérgio Conti, José Miguel Wisnik e Lorenzo Mammì.

Segundo o texto da decisão, o Supremo nega “por unanimidade e nos termos do voto da relatora (...) provimento ao agravo regimental”. O tema foi alvo de audiência pública há duas semanas no próprio STF, de Brasília. Uma ação direta de inconstitucionalidade será votada pelos ministros em breve.

Ao rejeitar o pedido de João Gilberto, o STF pode estar antecipando a decisão sobre a Lei das Biografias. O Supremo, ao que parece, defende a livre publicação de obras. A ministra Cármen Lúcia recebeu na semana passada diversas pessoas favoráveis à divulgação de biografias não autorizadas.