De cara, teve que fazer uma punção. Em seguida, foi examinada por um hematologista e, na sequência, um oncologista. Apesar de imaginar que não se tratava de algo simples, ao deixar o último consultório, ficou assustada. “O médico me disse: ‘Ou é a doença da Dilma ou é a do Reynaldo Gianecchini, vamos esperar o laudo da biópsia.’”, lembra. Naquele dia, revelou, sem rodeios, a notícia a alguns amigos: “Falei para eles, com todas as letras, que estava com câncer”.
Enquanto aguardava o resultado, fez uma viagem com o namorado, Raphael Amaral, de 21 anos, para Buenos Aires. Recebeu a notícia quando estava fora do Brasil: tratava-se de um linfoma de Hodgkin, ou seja, o mesmo enfrentado pela presidente em 2009.
De volta a Brasília, buscou informar-se sobre a doença e o tratamento, sempre com o pensamento de que poderia vencer o tumor. Para tanto, o primeiro passo foi reunir o maior número de informações possíveis, e a internet tornou-se a principal aliada de Priscila. O desafio da menina mobilizou parentes e amigos. “Todo mundo ligava para saber como eu estava e sobre o tratamento. Fiquei cansada de responder sempre as mesmas coisas e decidi criar um blog em que todos poderiam saber o que acontecia”, explica. A inspiração veio das dezenas de páginas com histórias semelhantes à sua que passou a acompanhar.
A colocação do cateter, a primeira sessão de quimioterapia, as impressões de uma adolescente diante de um tratamento tão complexo. Tudo está registrado lá. Em uma das postagens, Priscila consegue até mesmo ver o lado bom do agressivo tratamento quimioterápico. “Dar adeus à depilação, aprender a usar perucas e lenços e sempre estar diferente e, o principal, poder dormir ou assistir filmes até enjoar, sem ser julgada ou ficar com peso na consciência.” O linfoma, no entanto, não é o único protagonista dos textos. O blog também tem espaço para assuntos tipicamente juvenis, como receitas de cupcake e dicas de maquiagem. Até um tutorial com técnicas para amarrar lenços ela já produziu.
Apesar de sempre tentar manter o bom humor, o excesso de medicamentos, um problema com um cateter e o ganho de peso abalaram a autoestima da universitária. Enquanto enfrentava os dias mais difíceis, uma demonstração de solidariedade comandada pelo namorado e por três amigos levantou novamente o ânimo dela: todos tinham raspado a cabeça. “Naquele dia, chorei de emoção.” O medo também acompanhou a menina. Nem mesmo os 90% de possibilidade de cura faziam o temor desaparecer. “Tinha medo de morrer, de não ter forças para aguentar.”
As aulas na UnB acabaram em segundo plano, mas o câncer trouxe coisas boas. Priscila está mais vaidosa. Depois que raspou a cabeça, em 23 de julho, passou a se enfeitar mais. Anéis, pulseiras e esmaltes agora fazem parte da rotina.
Na semana passada, Priscila fez a última sessão de quimioterapia. Das 16 previstas inicialmente pelo oncologista, só precisou de 12. O corpo dela reagiu bem aos medicamentos e até mesmo a radioterapia foi dispensada.
A partir de agora, ela passará por consultas mensais. “O blog de uma menina que está lutando contra o câncer” vai continuar. “Foi bom para eu poder contar tudo o que sentia e acho que pode ajudar outras pessoas.”