Jornal Estado de Minas

Programa Caminhos da Reportagem mostra preservação em Fernando de Noronha

Agência Brasil
- Foto: Divulgação / Agência BrasilMorar em Fernando de Noronha é como estar em permanente aula de preservação ambiental. Descoberto pelo navegador italiano Américo Vespúcio em 1503, o arquipélago, que fica a pouco mais de 500 quilômetros do Recife, é um distrito administrado pelo estado de Pernambuco desde 1988. O nome vem do financiador da expedição que levou Vespúcio até o local. Fernão de Loronha (também chamado Fernando de Noronha, corruptela de Fernão de Loronha, seu verdadeiro nome) era um fidalgo português que, depois, recebeu o conjunto de ilhas como capitania hereditária.
Nessa espécie de paraíso, localizado no meio do Oceano Atlântico, vivem pouco mais de 2 mil pessoas. Todas elas, na ilha principal, Fernando de Noronha, que tem extensão territorial de aproximadamente 17 quilômetros. Com vários projetos de preservação ambiental em curso e também de pesquisas sobre a vida marinha, sendo o mais conhecido o Tamar, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), foi nesse arquipélago que o programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, desembarcou para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado ontem (5).

Nesta quinta-feira, às 22h, o passeio será pelas praias, baías, ilhas e a enseada do conjunto de ilhas. Tartarugas marinhas, golfinhos rotadores, barracudas são algumas espécies com que se depara o visitante e que poderão ser vistas no programa. O turismo, com forte viés ambiental, é a principal atividade econômica. Todos os meses, Fernando de Noronha recebe, em média, 2 mil turistas.

A pesquisa é outra atividade importante desenvolvida no arquipélago que, no passado, atraiu cientistas ilustres. Em 1832, por exemplo, o naturalista Charles Darwin, pai da Teoria da Evolução das Espécies, esteve lá, onde estudou sua grande biodiversidade. Artistas também se encantaram com as belezas da ilha. No século 19, o pintor Jean-Baptiste Debret, a caminho do Rio de Janeiro, avistou o Morro do Pico e resolveu aportar para fazer um registro da paisagem.

No entanto, preservar uma riqueza biológica de tal dimensão significa a imposição de restrições. Nos 26 quilômetros quadrados do arquipélago, formado por 21 ilhas, não é em qualquer lugar que se pode morar. O Parque Nacional Marinho, criado em 1988, ocupa 70% do território e os 30% restantes fazem parte de uma Área de Proteção Ambiental (APA) estadual. Só 10% da APA podem ser usados como espaço urbano.

Essa divisão ocorre para preservar ao máximo a ilha. Na APA, podem-se ter áreas de lazer, comércio e casa. Mas é justamente a necessidade de preservação que torna a vida dos habitantes um manual com várias regras. Para tudo, é preciso autorização, conforme determina o plano de manejo. Como tudo no arquipélago pertence à União, as pessoas vivem em suas casas em regime de concessão.

Qualquer ação de um morador que possa ter impacto ambiental precisa de permissão, até mesmo a troca de um vaso sanitário. O empresário Cesário Martins da Costa contou, em entrevista ao Caminhos da Reportagem, que, depois de quatro anos com o vaso de seu banheiro quebrado, até hoje não recebeu autorização para consertar a peça. “Quebrou a tampa aqui e eu fui comprar lá no armazém. Não pode. Só com autorização da administração. Me pediram foto, nota fiscal da descarga, mas como eu já tenho isso aqui há oito anos, não tenho mais a documentação”, relata.

Na área de saúde, a limitação não se resume ao fato de haver um único hospital. A equipe de saúde alega que a unidade não tem condições técnicas para emergências em caso de um parto complicado, por isso bebês não nascem mais em Fernando de Noronha. Recentemente, a mulher de Cesário, Laura Ramos da Silva Costa, deu à luz uma menina no Recife. Aos sete meses de gestação, ela foi fazer um ultrassom e o funcionário da companhia aérea, na hora do embarque de volta para Fernando de Noronha, chamou-a dizendo que Laura não tinha autorização da administração para voltar.

Laura conta que sofreu pressão bem antes disso. “Quando chegou um determinado tempo, eles não me respeitaram. Não parava o telefone, eles me perseguiam no trabalho, eles vinham aqui em casa, amanhecia o dia, tinha alguém aqui. À tarde, eu não podia dormir que tinha alguém na porta querendo falar comigo, entregar um papel”, revela.

A geração de energia elétrica, o abastecimento de água e a destinação do lixo são também questões que precisam ser administradas com cautela. A maior parte da energia que abastece a ilha é gerada por óleo diesel, de uma usina termelétrica, mas há também duas turbinas eólicas e placas de aquecimento solar. A água doce é limitada e açudes ajudam no abastecimento. Também são usados dessalinizadores. Mas nem sempre essas iniciativas são suficientes. Parte do lixo é reciclada para uso como adubo. O resto é prensado e volta para o continente de navio.

Em 2001, o arquipélago foi tombado pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, como Sítio do Patrimônio Mundial Natural. Noronha foi cedido à União em 1938 para a instalação de um presídio político. De 1942 a 1988, a ilha foi administrada por militares, até ser reintegrada ao estado de Pernambuco, pela Constituição.

O Caminhos da Reportagem vai ao ar às 22h de hoje, na TV Brasil, canal 2 da TV aberta em Brasília e canal 16 pela NET.