Jornal Estado de Minas

Encontro ecumênico será realizado antes de Jornada Mundial da Juventude

Evento reunirá judeus e muçulmanos em julho, no Rio de Janeiro

Agência Estado
Pela primeira vez na história das Jornadas Mundiais da Juventude católicos, judeus e muçulmanos vão se reunir em uma atividade conjunta. O encontro acontecerá no dia 21 de julho, na PUC-Rio, dois dias antes da abertura oficial do encontro católico que reunirá pelo menos 2 milhões de fiéis. Cerca de 200 pessoas estarão presentes: 50 jovens de cada religião, vindos do país inteiro, e convidados, como o padre Fábio de Melo, que fará uma palestra.

Um jovem de cada comunidade falará sobre o tema "Juventude: força de engajamento, força de fé", haverá rodas de conversas, exibição de vídeos e exposição de objetos litúrgicos das diferentes comunidades. "Dentro da Jornada, é o primeiro trabalho com essas três religiões. É uma iniciativa ousada. O tema central é a unidade, o diálogo, o que é realmente importante para o resgate dos valores primordiais da sociedade", diz o padre Arnaldo Rodrigues, do setor de Preparação Pastoral da organização da JMJ.
Muitos participantes aproveitarão a presença no Rio para, nos dias seguintes, participarem dos eventos que terão a presença do papa Francisco, que chega à cidade no dia 22 e fica até 28 de julho, quando se encerra a JMJ.

A origem deste primeiro grande encontro é um grupo chamado Juventude Inter-Religiosa do Rio de Janeiro (JIRJ), que começou com católicos e judeus e, há pouco mais de um ano, incorporou a comunidade muçulmana. "O principal objetivo do grupo é promover o diálogo, o respeito entre as religiões, já que no meio juvenil a gente vê tantas desavenças em relação à religiosidade", diz a fiscal tributária Aline Barbosa Almeida, de 26 anos, secretária-executiva do JIRJ. "Se a gente quer passar essa ideia da coexistência, não só religiosa, tem que partir de algum lugar. Nossa proposta é disseminar essa ideia do diálogo entre religiões, discutir como funciona e como idealmente deveria funcionar. Plantar uma semente na cabeça de cada um", diz a estudante de psicologia Tamar Nigri Prais, coordenadora de projetos sociais da instituição judaica Hillel e integrante do JIRJ.

Organização

O jornalista Fernando Celino, de 31 anos, é um dos representantes da comunidade muçulmana na organização do encontro inter-religioso da Jornada. Ele trabalha na Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro e integra a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa. Também faz parte do projeto Vizinhos de Portas Abertas, dos colégios Santo Inácio, católico, e Liessin, judaico, com intercâmbio de professores e alunos. "Existem cerca de 2 mil muçulmanos no Estado do Rio, não existem escolas islâmicas. Então, eu participo do projeto no Santo Inácio e no Liessin. O Islã é coberto de preconceitos. Quando surgiu o JIRJ, eu quis participar. Na Jornada, é a primeira grande ação que vamos realizar juntos. Queremos dar visibilidade ao diálogo inter-religioso, trabalhar pela destruição dos preconceitos e disseminar essa ideia no mundo inteiro", diz Fernando.

Na noite de quinta-feira passada, o grupo se reuniu na sede da Arquidiocese do Rio para acertar mais detalhes do encontro na PUC-Rio. Além dos jovens, veteranos da militância pelo diálogo entre as religiões também estão engajados. "Já demos passos para trazer as religiões de matriz africana, mas, como ainda é muito inicial, não foi possível incluir na atividade da Jornada", diz Diane Kuperman, ex-vice-presidente da Federação Israelita do Rio.

Diversidade

Sede da 28ª Jornada Mundial da Juventude, o Rio de Janeiro é um dos Estados de maior diversidade religiosa do Brasil. Menos da metade da população é católica e mais de um quarto é evangélica, uma das maiores proporções do País. Também tem porcentuais elevados, em comparação com os índices nacionais, de espíritas, praticantes de umbanda e candomblé e de pessoas que se dizem sem religião. Na semana que antecede a JMJ, durante encontro de jovens organizado pelos jesuítas, a troca de experiências das diferentes religiões também estará em foco, com visitas de jovens católicos a sinagogas, mesquitas e terreiros de umbanda.

Aos que estranham a ausência de grupos evangélicos no encontro inter-religioso, padre Arnaldo informa que haverá uma atividade específica, durante a JMJ, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), ainda a ser definida. "Queremos motivar os jovens de várias religiões na ideia de conhecer, respeitar, dialogar, conviver", resume padre Arnaldo.