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Cemitérios do Rio esperam mais de 2 milhões de visitantes Policial civil é baleado na zona norte de São PauloCerca de 75% dos cemitérios públicos têm problemas ambientais e sanitáriosVisitantes dos cemitérios de São Paulo desafiam a insegurançaVítimas da ditadura recebem homenagens em cemitério paulistaEm dia nublado, cemitérios do Rio têm movimentação tranquila“Nessa época, tinha um sentimento de medo muito forte. Foi então que nos reunimos para pensar o que fazer. Em vez de levantarmos grades e muros mais altos, fazendo das casas cadeias, vimos que o melhor era ir para a rua”, diz padre Jaime Crowe, da Paróquia Santos Mártires. Desde 1995, os moradores reúnem-se no dia 2 de novembro para protestar e dar visibilidade às vítimas da violência da região, muitas das quais são enterradas como indigente no Cemitério Jardim São Luiz.
“Reunimos 5 mil pessoas no primeiro ano. A caminhada deu-nos fôlego para pensar outras ações. Foi então que criamos o Fórum em Defesa da Vida, que continua se encontrando mensalmente na paróquia”, disse o padre. Ele informou que as reuniões aglutinam, em média, 50 pessoas. Dentre as conquistas resultantes do processo de organização, ele cita a construção do Hospital M'Boi Mirim e a implantação do policiamento comunitário. “A taxa de homicídio no Jardim Ângela caiu para 25 assassinatos a cada 100 mil habitantes. Queremos chegar a zero”.
O padre Jaime Crowe avalia que, quando a comunidade é assistida em termos de políticas públicas, os índices de criminalidade tendem a cair. “Você cria oportunidade para as pessoas”, diz. Ele avalia que os recentes casos de violência não chegaram tão fortemente ao Jardim Ângela. “O bairro não está mais em primeiro lugar no ranking. A desigualdade é responsável por gerar violência. Tem que fazer chegar cidadania nesses lugares”.
Eduardo Oliveira, que mora na região há 46 anos, acredita que a situação no bairro melhorou nos últimos 20 anos. “As pessoas enfrentavam muito preconceito quando diziam que moravam no Jardim Ângela. Era difícil até para conseguir emprego”, diz. Apesar dos avanços, o bairro ainda guarda muito desafios: transporte público, creches e ainda a questão da segurança.
A família do aposentado Antônio Cristóvão da Rocha, 70 anos, participa da caminhada desde que ela foi criada, na década de 1990. A esposa Joana Rocha, 69 anos, e as filhas Maria Rita, 33 anos, e Patrícia, 26 anos, concordam que a questão da segurança requer mais investimentos. “É certo que melhorou, mas ainda tem muito para mudar”, diz Maria Rita.
Durante o ato, os moradores utilizaram faixas brancas na cabeça com nomes de pessoas do bairro que foram assassinadas. Além disso, grupos de jovens fizeram apresentações teatrais. Ao final da caminhada, foi celebrada uma missa campal no cemitério.