Jornal Estado de Minas

Sem fiscalização, motor turbinado se espalha por São Paulo

Vários artigos são proibidos por Lei, mas motoristas ignoram legislação

AgĂȘncia Estado
Transformar um carro em arma sobre rodas é fácil no centro de São Paulo. Sem receio da fiscalização, mecânicas e lojas de acessórios oferecem serviços e produtos vetados por lei. São motores turbinados, giroflex, sirenes, películas escurecidas, rodas que extrapolam a carroceria e faróis ofuscantes. Motoristas imprudentes e até criminosos têm recorrido à personalização de carros para praticar atos ilegais - é o tuning do mal.
Equipamentos de iluminação usados pela polícia, sirenes e alto-falantes são adquiridos por cerca de R$ 200 na Rua Santa Ifigênia. Com eles, é possível abrir caminho em congestionamentos, criar sensação de pânico nas ruas e despistar perseguições. "É uma irresponsabilidade. Diante de uma irreal situação de emergência, motoristas mudam o comportamento. Pode haver avanço de semáforo, aumentando o risco de colisões", diz Mauro Augusto Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).

Os motores turbinados, porém, representam a customização mais perigosa. Por cerca de R$ 6 mil, empresas "preparadoras" vendem kits de peças capazes de triplicar a potência. "É uma alteração que nasceu para suprir a vontade de colecionadores, mas, infelizmente, pode virar incentivo ao crime", alerta o capitão Sérgio Marques, porta-voz da Polícia Militar. Segundo ele, é comum flagrar assaltantes usando carros tunados para fugir em alta velocidade.

Dono de um Gol GTS 1987 com 300 cavalos a mais do que o original P.R., de 26 anos, gastou R$ 30 mil para turbiná-lo. Dispensou, no entanto, as adaptações necessárias no freio - um risco para ele e os demais motoristas. "É como dirigir uma cadeira elétrica. Acelera tudo, mas nunca sabe se vai parar." O veículo chega a 240 km/h.

Mais velozes, os veículos viram máquinas poderosas em competições ou em fugas. P.R. é adepto de rachas, que costuma praticar na Avenida Jacu-Pêssego, na zona leste, na Ricardo Jafet, na sul, e na Rodovia Ayrton Senna. "Todo mundo que faz corrida prefere sair guinchado a levar 'bucha' (perder a competição)", explica ele, que se gaba de travar disputas com Camaros e Mustangs. Neste ano, a PM interrompeu 40 rachas no Estado.

Riscos. Mudanças em carros implicam outros perigos. Na Rua Barão de Limeira, rebaixar carroceria custa R$ 100. A solução é cortar as molas, "deixando o carro na altura que quiser", explicou o atendente de uma oficina. Há alterações menos agressivas em lojas da Avenida Duque de Caxias, como mudar a cor do carro por R$ 3 mil e instalar películas 100% escurecidas por R$ 100. "Em caso de sequestro relâmpago, a vítima pode ficar horas no poder de criminosos, sem que ninguém saiba o que acontece", alerta o capitão Marques.