Eliete Barbosa, de 30 anos, líder dos sem-teto, afirma que nenhuma família vai deixar o local antes de receber o bolsa-aluguel de R$ 300 oferecido pela Prefeitura. Onze crianças estão entre as famílias que moram nos vestiários do clube-escola.
“Não está faltando nada aqui. Toda hora a Prefeitura manda marmitex, leite, achocolatado. Tem água quente, luz. Só vamos sair assim que alguém garantir bolsa-aluguel para todo mundo”, afirmou.
O incêndio atingiu 114 barracos e deixou 450 pessoas sem casa. Apesar das grandes proporções, não deixou vítimas. No dia 29, a Defesa Civil realocou cerca de 20 pessoas no Pelezão. “Mas acabou chegando mais gente, ninguém tinha para onde ir nem o que comer. Agora está esvaziando de novo, o pessoal está voltando para a favela”, afirma a líder dos sem-teto.
Um dos homens que perderam o barraco diz deixar colchão e roupas nos vestiários e à noite vai dormir na casa dos pais, em Guarulhos. “Se sair daqui de vez perco a ajuda para o aluguel”, admitiu.
Ao todo, 145 famílias que perderam seus barracos no incêndio foram cadastradas no Plano Municipal de Habitação da Prefeitura. O bolsa-aluguel só poderá ser concedido para quem estava em moradias regulares - a maior parte das que foram destruídas, porém, estava em um núcleo montado ilegalmente em propriedade particular, segundo a Defesa Civil.
A Assessoria de Imprensa da Prefeitura informou que 70 famílias atingidas pelo incêndio receberão “auxílio aluguel emergencial e depois serão encaminhadas para o Programa de Parceria Social”. Segundo o governo, restam apenas sete famílias no Clube-Escola Pelezão, que serão cadastradas amanhã pela Secretaria Municipal de Habitação e devem receber bolsa-aluguel a partir da próxima semana.
Estrutura
O Clube-Escola Pelezão fica em uma área de 60 mil m² com 12 quadras de tênis, quatro piscinas, campo de futebol e pista de cooper. É uma das poucas unidades esportivas municipais com aulas de circo. Funcionários e usuários lamentaram o fato de a Prefeitura não oferecer moradia adequada aos sem-teto.
“Como pode a Prefeitura transformar em abrigo para desalojados de incêndio o único clube público e bem conservado da região? Lutamos durante dez anos para reformar o clube, as piscinas, e agora fazem isso”, reclama Laerte Márcio Stocco, de 51 anos. Ontem à tarde, o número de sem-teto circulando pelo clube era bem maior do que o de usuários.