Por dia, há em média cinco desembarques de voos internacionais no terminal de Brasília. As aeronaves vindas de Miami exigem mais atenção da Aduana: são quatro por semana da companhia aérea brasileira TAM e uma que chega diariamente da American Airlines. O voo da Taca Airlines, que sai de Miami e faz escala em Lima, no Peru, também costuma dar mais trabalho aos fiscais. Geralmente, “muambeiros” profissionais viajam muito, mas o tempo de permanência no exterior não passa de cinco dias. Trazem mais do que duas malas e chegam a usar grávidas para tentar a liberação sem a inspeção das bagagens. A maior parte dos flagrados na capital do país com esse perfil desembarcam por aqui e pegam voos de conexão para estados do Nordeste.
Descaminho
Comercializar produtos trazidos do exterior como bagagem configura crime de descaminho (leia O que diz a lei). Além de as mercadorias serem apreendidas, o transportador pode ser preso. Mesmo que não se enquadre nas características de “muambeiro”, quem extrapola a cota de US$ 500 e tenta driblar a fiscalização fica sujeito a penalidades que vão além da multa prevista pela omissão de informações. Servidores públicos, em último caso, se condenados, podem ser exonerados.
O inspetor-chefe da Alfândega de Brasília, Wagner Wilson de Castro, diz ser compreensível o aumento do consumo no exterior, mas destaca o respeito às regras em vigor. “O limite do bom senso é a lei”, afirma. Quando flagrados com valores superiores ao tolerável na fila do nada a declarar, os passageiros apresentam reações distintas. Quase sempre alegam falta de esclarecimento, o que não os exime da multa. Recentemente, uma moradora do Lago Sul chorou copiosamente ao ser descoberta com um computador de US$ 700. Outros, no lugar do choro, partem para a agressividade e acusam os fiscais da Alfândega de “predadores”. “Nosso objetivo é proteger a indústria nacional, a arrecadação é consequência”, argumenta o inspetor-chefe, antes de informar que as tarifas aduaneiras correspondem a 2,5% de tudo o que a Receita Federal arrecada no ano.
Camuflagem
No ano passado, um passageiro acabou detido e levado à Superintendência da Polícia Federal ao tentar passar pela Alfândega
com mais de 30 relógios escondidos na roupa. A voz de prisão foi dada após fiscais da Aduana desconfiarem do viajante e, diante da reação dele no momento da abordagem, optarem pela revista. Mercadorias apreendidas vão a leilão
ou para doação a órgãos públicos, principalmente para polícias.
O que diz a lei
Descaminho é crime contra a ordem tributária, previsto no artigo 334 do Código Penal. Implica “importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria”. A pena prevista na legislação é de reclusão de um a quatro anos. Considera-se contrabando o transporte ilegal de produtos que atentem contra a saúde ou a moralidade, como armas e drogas.