O delegado-chefe da 33ª DP, Guilherme Nogueira, informou que os investigadores do caso identificaram os dois garotos e, “oportunamente, os apresentarão à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA)”. O crime ocorreu em 25 de fevereiro, por volta das 22h30, na QR 118, Conjunto H, em frente ao Lote 2. As vítimas dormiam sob uma árvore quando os agressores as surpreenderam. Primeiro, o grupo incendiou um sofá usado pelos moradores de rua. Em seguida, alguns deles voltaram ao local e queimaram os moradores de rua (leia arte).
Socorristas levaram os mendigos para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), referência de queimados na Região Centro-Oeste. José Édson não resistiu aos ferimentos e morreu no dia seguinte. Paulo Cezar ficou com 20% do corpo queimado. Ele permanece internado e estável, mas corre risco de morte devido à gravidade dos machucados.
Segundo o delegado Nogueira, Daniel de Abreu, comerciante da QR 118, planejou o crime. Ele contratou Edmar e providenciou a gasolina usada para queimar as vítimas. Segundo a polícia, também deixou o combustível no local quando o grupo ateou fogo no sofá e depois comprou mais para usar nos moradores de rua. A investigação levantou que Daniel estava incomodado com a presença dos mendigos nos arredores da marcenaria dele, pois atrapalhava o trabalho. A encomenda do crime teria sido feita há cerca de 20 dias.
Os acusados serão indiciados por duplo homicídio (um tentado e outro consumado), com quatro qualificadoras: motivo fútil, emprego de fogo, promessa de recompensa e impossibilidade de defesa das vítimas. A pena varia de 12 a 30 anos. O marceneiro também responderá por corrupção de menores. “Da primeira vez, os acusados fugiram de bicicleta. Por isso, levantou-se a suspeita de serem menores. Da segunda, o mentor levou o grupo no próprio carro, uma GM Montana”, contou o delegado.
O defensor de Daniel e de Edmar, o advogado Dênio Jonatas dos Santos, tentou desqualificar a detenção. Ele disse que o delegado agiu ilegalmente ao pedir a prisão temporária dos suspeitos com base em depoimentos. Ele justificou ainda o desdém de Edmar, que fez pose e debochou da imprensa ao ser apresentado na manhã de ontem. “Durante o depoimento, ele chorou. Está aflito e pergunta pelos familiares o tempo todo. Ele fez aquilo porque queria mostrar que estava com a consciência tranquila, porque não tem ligação nenhuma com essa barbárie. Nem ele, nem Daniel”, alegou.
Famílias
Parentes das vítimas se disseram aliviados com a prisão dos suspeitos. O caminhoneiro Francisco Miclos, 54 anos, pai de José Edson, contou que os dias têm sido “horríveis”. “A minha esposa é operada do coração e está o tempo todo sob o efeito de medicamentos. Nem trabalhar eu posso. Como é possível perder um filho em uma situação dessas? Mas a justiça foi feita e isso ameniza.”
A irmã de Paulo Cezar, a professora Izabel Virgínia Maia, 44 anos, disse que esperava as prisões. Para ela, é questão de tempo até que a Justiça condene os acusados. Acrescentou ainda que o mais importante, no momento, é a recuperação do irmão. “Queremos reabilitar o Paulo e cuidar dele em todos os sentidos, ajudá-lo a se recuperar com carinho e atenção. Esquecer, não vamos conseguir. Tenho para mim que colhemos tudo o que plantamos, para o bem e para o mal, e eles vão colher o deles”, defendeu.