Jornal Estado de Minas

Desastre no Rio de Janeiro atinge a Copa

Desabamento dos prédios no Centro do Rio de Janeiro põe em discussão em jornais britâncios e norte-americanos a competência do Brasil de sediar eventos esportivos de grande porte

Josie Jerônimo
Aqui, os brasileiros se solidarizam com o sofrimento dos familiares das vítimas do desabamento dos três prédios no Centro do Rio de Janeiro. Nos outros países, que passaram a olhar com atenção o dia a dia das sedes de jogos da Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016, a tragédia levantou, de antemão, a discussão sobre a competência dos governos brasileiros em estruturar suas cidades. Grandes jornais dos Estados Unidos e Inglaterra deram destaque aos desabamentos relacionando a tragédia aos eventos esportivos que o Brasil vai sediar. Um representante do governo municipal do Rio de Janeiro reagiu e chamou a análise de “estapafúrdia”.
O sociólogo Cezar Honorato, diretor do Observatório Urbano da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), pontua que o desabamento dos prédios foi um episódio atípico, mas defende uma resposta institucional à altura para limpar a imagem do Brasil no exterior e construir um legado antecipado da Copa e Olimpíadas para os cidadãos fluminenses. “Toda tragédia repercute internacionalmente. Há órgãos dizendo que nossa engenharia é ruim. Não é o caso, nossa engenharia é de padrão internacional. Vai ficar um pouco essa mácula. Mais importante do que a imagem é o legado. Só vale o investimento em Copa e Olimpíadas se deixar um legado para as cidades, pois muito poucos vão conseguir ver as provas, os jogos. Então, quem vai se beneficiar?”

O diretor do Observatório Urbano da Uerj afirma que o episódio pode abrir espaço para o mundo questionar a qualidade das construções e instalações brasileiras. Somado ao desabamento dos três prédios, o Rio de Janeiro acumulou no ano passado um histórico ruim, que incluiu sequência de explosões em bueiros e em um restaurante, nas imediações da tragédia deste ano, por causa de um vazamento de gás. “A prefeitura deveria, da mesma forma que fez com os bueiros, criar uma equipe, em parceria com o conselho de Engenharia, para vistoriar cada um dos prédios mais antigos, porque eles foram construídos em uma outra realidade da cidade. Essa vistoria deveria ser feita pelo menos na parte histórica. São muito mais bueiros do que prédios.”

De acordo com o especialista, em Nova Iorque (Estados Unidos), a prefeitura tem uma rígida política de vistoria de instalações. De cinco em cinco anos, um pente-fino é passado em todos os imóveis. Honorato afirma que os problemas estruturais das nossas cidades têm mais de 200 anos, e que dificilmente o Brasil conseguirá corrigir esse histórico de má gestão nos próximos dois anos, a tempo da Copa do Mundo. Além dos problemas de falta de fiscalização das edificações, o sociólogo aponta a deficiência de transporte e rede de atendimento médico como preocupações imediatas para que o país não passe vergonha ao receber turistas durante a realização de jogos internacionais. “Esses eventos têm que ser oportunidades para grandes intervenções urbanas, para a resolução de grandes problemas da cidade. Há problemas históricos, como transporte e a circulação de pessoas. A cidade já vive um colapso, mas a gente se acostuma ao colapso. É impensável no mundo contemporâneo levar duas horas da sua casa ao local de trabalho.”