A coleção particular do casal impressiona pela variedade de formas, traçados e materiais. O primeiro exemplar chegou em 1955, quando uma tia de Amélia trouxe um presépio esculpido em madeira feito em terras italianas. O segundo veio apenas 27 anos depois e foi a própria colecionadora que o comprou em Miami, Estados Unidos. É a partir dessa data que ela considera o início propriamente dito do hobby. “De 1982 em diante, ficamos em Brasília para comemorar o Natal. Antes, íamos para Aracaju, que é nossa cidade natal, e eu não me importava muito”, explica Amélia.
Desde então, a quantidade de imagens não para de crescer, seja pelas doações de amigos e filhos, seja pelo cuidado da dona de casa. Um dos últimos mimos recebidos foi uma pequena construção de palha vinda do Equador. Para mantê-los, Amélia é exigente, por isso, eles resistem ao tempo e às crianças da família. São sete filhos, 14 netos e dois bisnetos. “Meus dois bisnetos vieram aqui esta semana e as mães ficaram vigiando”, conta. O ciúme com a coleção é tanto, que, além dos pequenos serem mantidos distantes dos objetos, nem mesmo a diarista limpa os presépios expostos. A tarefa de tirar a poeira e passar um pano úmido em cada um deles é exclusiva de Amélia. “Tenho muito medo de eles quebrarem”, justifica.
Para assentar tantas marias, josés, cristos e reis magos, a saída foi comprar uma mesa extra. São três, todas lotadas, além de aparadores e cômodas, que também abrigam as imagens. Até a estátua do marido foi retirada de um aparador para dar espaço ao presépio norte-americano armado em cima de uma bandeja de espelho. “Viu? Até eu fui desbancado para dar lugar a esse presépio”, brinca Raymundo.
Ritual
Todo 1º de dezembro é sagrado para Amélia. Ela abre o armário e tira as caixas lotadas de presépios. Desempacota bonequinho por bonequinho. Depois, pensa a disposição de cada um, geralmente separando os menores dos mais rústicos e dos queridinhos. Assim, as diversas cenas do nascimento de Cristo introduzem a família ao espírito natalino. Em 6 de janeiro, ela empacota tudo de novo, encaixota e espera, ansiosa, o próximo Natal.
Para saber mais
Herança europeia
Os primeiros presépios foram introduzidos no Brasil pelos sacerdotes portugueses que desembarcaram na nova colônia. Em 1532, o padre José de Anchieta, ajudado pelos índios, modelou em barro pequenas figuras representando o nascimento de Jesus, com o propósito de incutir nos indígenas a tradição cristã. Mas esses objetos só foram efetivamente introduzidos e difundidos por aqui nos séculos 17 e 18 pelos jesuítas. Inicialmente, os exemplares que chegavam se inspiravam nos modelos importados de Portugal e da Espanha. Mais tarde, a representação natalina passou a ter fisionomia própria e cara brasileira. Principalmente após o movimento barroco. Desde então, os presépios nacionais passaram a ser esculpidos com influências indígenas, negras e caboclas. A fauna e a flora brasileiras também foram incorporadas à cena da chegada de Cristo.
História
São Francisco, o pioneiro
A Igreja Católica atribui o primeiro presépio à figura de São Francisco de Assis, em 1233, quando o santo resolveu reviver em uma gruta a história de Cristo. Com a ajuda de um rico senhor da região, conseguiu a manjedoura, o feno e os animais. Na noite de Natal, os sinos chamaram a população que vivia próxima à gruta. Vieram a pé, montados em burros ou a cavalos. Na gruta, entre os animais, uma missa foi celebrada. Desde então, os frades franciscanos imitaram o seu fundador nas igrejas e nos conventos abertos por toda a Europa e se transformaram nos verdadeiros pioneiros do presépio, antes dos dominicanos e dos jesuítas. Desde 1986, São Francisco de Assis é considerado o patrono universal do presépio.