A menos de 20 quilômetros do Plano Piloto, Área Central de Brasília famosa pelo alto padrão de vida, está o barraco de madeira onde mora Elilson Gonçalves Pereira. Na casa de dois cômodos localizada na Vila Estrutural, o banheiro é improvisado, não há água encanada nem rede de esgoto, a eletricidade vem de gambiarras que fazem funcionar o único eletrodoméstico do lar, uma televisão de madeira fabricada na década de 1970. Para cozinhar, o maranhense de 37 anos usa lenha. “Nesse tempo de chuva, a madeira molha. Tem hora que desisto de acender”, conta, ao tentar fazer o fogo pegar. Atualmente desempregado, o homem que já foi resgatado como escravo em uma carvoaria no Pará antes de desembarcar no Distrito Federal para tentar a vida, representa bem o Índice de Pobreza Mutidimensional (IPM), divulgado ontem pelas Nações Unidas, que mede privações múltiplas e simultâneas em serviços essenciais, retirando apenas da renda o critério para avaliar o bem-estar social da população.
Entre os Brics, o Brasil perde – como em todos os outros indicadores — para a Rússia no quesito pobreza multidimensional. Enquanto aqui há, pelas medições da ONU, 7% da população vulnerável à miséria, lá 0,8% estão na mesma situação. “Todos os países comunistas colhem frutos nas áreas de educação e saúde, que são preponderantes para uma boa avaliação de desenvolvimento humano, embora muitas vezes não tenham desempenho notável na seara econômica”, pontua Marcelo Medeiros, pós-doutor em sociologia do desenvolvimento e professor da Universidade de Brasília. Atrás do Brasil no IPM, ainda dentro do grupo das nações emergentes, vêm China e África do Sul, em posição praticamente igual. Na lanterna, está a Índia, com 612 milhões de pessoas – ou 53,7% da população total – em condição de pobreza multidimensional. Ainda há 28,6% em pobreza grave e 16,4% incluídos como vulneráveis. Ou seja, sobram 1,3% de indianos imunes às privações medidas pelo IPM. (RM)