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Estado de Minas

Generosidade nacional promove doações milionárias no Brasil

Pesquisa inédita encomendada pelo Fundo Cristão para Crianças revela que 17 milhões de brasileiros doam dinheiro mensalmente às causas sociais, movimentando volume de R$ 5 bilhões. Empresas participam com R$ 2 bilhões


postado em 30/08/2011 06:00 / atualizado em 30/08/2011 06:08

A aposentada Maria Tereza Lopes é a típica doadora brasileira: mesmo não tendo muitos recursos, compartilha o que ganha com os que mais precisam. Ela doa R$ 10 mensais e ainda quer ser voluntária para dar carinho (foto: Jackson romanelli/em / d.a press)
A aposentada Maria Tereza Lopes é a típica doadora brasileira: mesmo não tendo muitos recursos, compartilha o que ganha com os que mais precisam. Ela doa R$ 10 mensais e ainda quer ser voluntária para dar carinho (foto: Jackson romanelli/em / d.a press)


A casa cresceu. O número de carros na garagem aumentou, assim como o de filhos na universidade. A compra do mês ficou maior e mais farta. E ninguém mais duvida: o brasileiro mudou de vida. Quase 30 milhões de pessoas chegaram à classe C – na qual se enquadram cidadãos com renda mensal entre R$ 1,2 mil e R$ 5,1 mil –, que hoje representa um exército de 94 milhões de brasileiros. Subiu de patamar, mas, diferentemente do que dizem daqueles que engordam apenas o bolso, ele não se esqueceu de compartilhar. É que a melhoria no poder de compra desse contingente na classe C refletiu no perfil e na motivação às doações para entidades filantrópicas no país. É o que revela pesquisa encomendada pela fundação Fundo Cristão para Crianças (ChildFund Brasil) à consultoria Rgaber Estatística.

São 17 milhões de brasileiros que doam dinheiro mensalmente às causas sociais. “Essa população gera um volume de doações de R$ 5 bilhões. Antes, ninguém tinha essa dimensão”, afirma Gerson Pacheco, diretor nacional do ChildFund Brasil, alegando não saber avaliar se os números podem ser considerados grandes ou não, pelo fato de o estudo ser inédito. Ainda assim, é possível afirmar, categoricamente, que insignificantes eles não são.

A pesquisa constatou também que não são apenas pessoas físicas que têm aberto a mão para o próximo. De acordo com dados do Censo 2009/2010 da Rede Gife – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas com 134 associados –, R$ 2 bilhões foram investidos em 2010 pelas empresas associadas, dinheiro aplicado em diferentes áreas sociais. Exemplo de que a crescente bola de neve da compaixão e da solidariedade não para de crescer é o Dia V, Dia do Voluntariado, promovido há uma década pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), por meio do Serviço Social da Indústria (Sesi-MG) em parceria com empresas, organizações não governamentais, governo e sociedade civil organizada.
No domingo, mais de 50 mil pessoas se mobilizaram em 2.980 ações em 135 cidades mineiras, além de Belo Horizonte. A iniciativa desenvolvida pela Fiemg foi replicada em 11 estados e no Distrito Federal. Entre as práticas, estiveram doações de fraldas a lares de idosos, atividades culturais com jovens e crianças e reforma na infraestrutura de entidades assistenciais. Por serem conhecidas, as ações empresariais para as áreas sociais são mais visíveis. Mas, quem decide abrir o coração como pessoa física, ainda que não apareça tanto, também é um gigante da transformação social. E foi por esse motivo que a fundação Fundo Cristão para Crianças quis conhecer a fundo de onde vem essa solidariedade de cada brasileiro, detalhando pela primeira vez no país esse perfil.

“Antes, contávamos com 10 mil doadores brasileiros, 30 mil norte-americanos e 15 mil europeus. Com os bons números da economia brasileira e a nova cara do Brasil no exterior, perdemos 15 mil doadores estrangeiros. Mas a miséria brasileira ainda existe, as dificuldades também, por isso, buscamos conhecer o perfil daquele que se sente sensibilizado”, justifica Gerson Pacheco.

RICOS DOAM MENOS Assim, coube à Rgaber Estatística o desafio. Como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) faz a cada quatro anos a pesquisa de orçamento familiar, a chamada POF, no qual são levantados os itens que compõem o consumo das famílias brasileiras, inclusive gastos com doações, a empresa cruzou esses números com o censo demográfico nacional. Ao comparar os anos 2003 e 2009, o diretor da Rgaber, Rogério Garber, constatou que houve uma diminuição de 1% na proporção das pessoas que se dizem doadoras regulares. Mas a grande surpresa foi a diferença de doações entre as classes econômicas: os mais ricos doam menos que os menos favorecidos. A classe C foi a única que apresentou resultado positivo. Ela ganhou 1 milhão de doadores que elevaram a média de contribuição mensal de R$ 15,50 para R$ 17.


A classe A registrou queda de 37%, representando atualmente 14,9% de doadores regulares no país. “As classes C D E ajudam mais que A e B, por terem perto de si a miséria. As pessoas da nova classe C, por exemplo, viviam mais perto de uma realidade dura. E sabem o que é passar dificuldade. Já os ricos estão longe disso e, por pagar impostos altos, acabam não contribuindo, por achar que isso é obrigação do governo”, critica Pacheco, preocupado com o distanciamento daqueles com mais dinheiro no bolso. “Ainda são 16 milhões de brasileiros que vivem na linha da miséria. Como faremos sem a generosidade de alguns? Os estrangeiros já não querem ajudar o Brasil porque ele está crescendo”, avalia Pacheco.


E quem diria: os homens, e não as mulheres, são mais generosos, conforme apontou a pesquisa. Apesar de elas doarem mais vezes, o valor da doação deles é maior. A média delas é de R$ 21 mensais e a deles, R$ 31. A aposentada Maria Tereza Lopes se encaixa no perfil dos doadores brasileiros. Moradora do Bairro Jardim Alvorada, na Região Noroeste de Belo Horizonte, ela diz que, apesar do pouco que pode doar por ser da classe D, não deixa de ajudar os mais necessitados. Há um ano, começou a depositar R$ 5 na conta do Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus, projeto que dá assistência a pessoas carentes e com paralisia cerebral. “Já passei para R$ 10 mensais. É um trabalho muito bonito. Quero conhecê-lo pessoalmente.”


Apesar de já ter passado por muitas dificuldades, a aposentada diz ser doadora fiel por acreditar que o mundo pode mudar “se cada um fizer a sua parte.” “Às vezes pensamos que R$ 5 são pouco, mas se cada um der esse valor, teremos milhões. As pessoas precisam se sensibilizar. Além do Caminhos para Jesus, ajudo a Fundação Mário Penna há um ano, com R$ 5. Quero ser voluntária, ajudando também com minha presença, dando carinho. Devemos nos colocar sempre no lugar de quem precisa”, diz.

Perfil

Ao encomendar o levantamento detalhado sobre o perfil do doador no Brasil, a fundação Fundo Cristão Para Crianças acabou conhecendo o perfil dos padrinhos dos 500 projetos sociais desenvolvidos pela instituição no Brasil. Em 2009, 30 mil crianças foram beneficiadas pelos programas em Minas, onde estão 40% das iniciativas. O maior beneficiário é o Ceará, com 58%. Hoje, 30 de agosto, a fundação completa 45 anos com 10 mil padrinhos em todo o país e traça planos para o futuro: envolver mais o apadrinhamento empresarial.


Atuando em Minas, Rio Grande do Norte e Ceará, com identidade, cultura, proteção e saúde das crianças de comunidades carentes, a ChildFund Brasil beneficia 120 mil menores, 250 mil pessoas e 41 mil famílias. “Os projetos são de acordo com a demanda da comunidade. No Vale do Jequitinhonha, trabalhamos a valorização da cultura regional como identidade para as crianças”, diz Dov Rosenmann, gerente de Programas Sociais do Fundo Cristão. Atualmente, 55 mil crianças são apadrinhadas no Brasil. Elas recebem R$ 52 mensais até completar 18 anos. O desafio agora é sensibilizar mais empresas a abraçar a causa do apadrinhamento.

Grande exército do bem
Funcionários de empresas mineiras são incentivados a se tornar voluntários em projetos sociais. E não se arrependem. Veja aqui exemplos de quem abraçou a causa com amor

Há quem doe dinheiro, tempo, carinho, força, talento ou um simples sorriso. Sem olhar a quem, milhares de brasileiros em cada canto deste país encontram uma forma de ser solidários. Juntos, eles formam um exército disposto a ajudar, pelo simples prazer de fazer bem a alguém. Muitos afloram esse dom – sim, de acordo com eles, ser voluntário do bem é um dom – por vontade própria. Mas há uma multidão que sempre teve aquele desejo de ajudar, mas precisava de algo mais para dar o primeiro passo. É aí que as empresas em Minas Gerais têm atuado: elas têm dado o empurrão da solidariedade a seus funcionários. Por meio de seus projetos sociais ou de parcerias com instituições, a iniciativa privada incentiva seus colaboradores e empregados a investirem no próximo. Em muitas vagas de emprego, inclusive, desenvolver trabalho voluntário conta pontos. E esse “empurrãozinho” deu certo. Muitos voluntários revelaram ao Estado de Minas que, além de melhorar a autoestima, eles se sentem mais valorizados dentro do trabalho e não se incomodam de doar parte do tempo a quem precisa, nem nos fins de semana. “Não há cansaço quando se trata de solidariedade”, afirma o supervisor da área de segurança da mineradora AngloGold Ashanti, José Antônio da Silva Soares, de 47 anos. Ele trabalha das 23h às 7h diariamente e ainda encontra umas horas que são dedicadas às ações sociais da firma. “Vou continuar sendo assim até o dia em que o homem lá de cima me der outro destino.” Além de José, Marcos, Mário, Antônio e Débora asseguram que, em equipes solidárias, são “pau para toda obra” e dizem acreditar na força do “todos por um” para um mundo melhor.

Mário Luiz Ferreira Carneiro,
técnico de enfermagem da Oncomed

“Trabalho na Oncomed há sete anos e, há um ano, a clínica, com o espírito de humanizar o atendimento, implantou o projeto Trupe da Alegria. Foi ministrado um curso para quem quisesse participar. Me inscrevi por livre e espontânea vontade. Tornei o palhaço Tuiuiú e, uma vez por mês, junto com a trupe, cantamos, brincamos e nos divertimos muito com os pacientes. É contagioso e uma oportunidade plural estar nesse projeto. São crianças, adultos e idosos que se sentem bem conosco e a gente com eles. Na alegria deles a gente vê o resultado do trabalho. Como técnico de enfermagem, estou todos os dias ali, mas quando estou como Tuiuiú e recebo um sorriso ou aperto de mão, é diferente. A gente passa a ter uma visão melhor da vida.”

Marcos Barroso,
empregado do suporte jurídico e regulatório da Cemig

“Comecei a ser voluntário em 1984, quando a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) ficava próxima a uma favela. Na véspera do Natal, comprei lembrancinhas para crianças que moravam ali e sai distribuindo para mais de 1 mil meninos e meninas. De lá pra cá, dediquei-me ao voluntariado. Na Cemig, temos muitas ações sociais, das quais podem participar filhos, esposas e sobrinhos dos funcionários. Na minha superintendência, de suporte jurídico e regulatório, nos colocamos à disposição para ser voluntário. Os projetos empresariais sociais agregam valor para a comunidade. Mas não adianta uma empresa estar sozinha nessa história. Os trabalhadores precisam se unir a isso. Afinal, eles também são amigos das comunidades. Aqui, visitamos asilos, creches, orfanatos e tantos outros lugares que necessitam de ajuda. Fazemos doações, reparos em fachadas, doamos materiais e até nos vestimos de palhaço. Somos 1 mil voluntários na Cemig”.

José Antônio da Silva Soares,
supervisor da área de segurança da AngloGold Ashanti

“Não tem coisa melhor do que ajudar o próximo estando próximo. Tenho 26 anos de empresa e, desde 2003, sou voluntário das ações sociais. Ano passado, fizemos visitas a asilos em Caeté e Sabará, na Grande BH, e levamos carinho a idosos. Muitas vezes, ficamos presos pensando em ajudar alguém, mas falta coragem. A empresa me deu esse empurrão. O pouco que ajudo sei que estou fazendo diferença para alguém. Ser voluntário aumenta nossa autoestima, passamos a ser mais humanos. Pode ser a ação mais simples, como um sorriso para mudar algo. Trabalho todos os dias das 23h às 7h, e a maioria das ações é feita nos fins de semana. Arranja-se tempo, pois você encontra seus colegas de empresa e isso o incentiva a continuar. O bom disso tudo é o desafio que encontramos a cada ação e os agradecimentos que vêm do fundo da alma das pessoas. Além de voluntário da AngloGold, doo sangue e medula óssea.”

Débora Stephany Mota Silva,
assistente administrativa da Associação Profissionalizante do Menor (Assprom)

“Escolhemos o Dia V para fazer mais pelas pessoas. No dia 24, em comemoração à data, a Associação Profissionalizante do Menor (Assprom) fez uma tarde solidária na creche Padre Francisco Carvalho, com muitas brincadeiras, contação de história, oficinas de arte e música com crianças carentes. Minha tarefa foi o que mais sei fazer: pintar rostos. Foi lindo. Nossa associação contrata menores para torná-los menores aprendizes. Tenho 18 anos e sou uma das adolescentes beneficiadas. Sempre gostei de ajudar o próximo e desde os 15 sou voluntária em Betim, onde moro. Na minha igreja, a gente sempre faz eventos beneficentes. É um bem que pretendo levar para o resto da vida.”


Antônio Renato de Almeida,
técnico de manutenção da empresa Camargo Corrêa

“Trabalho na Camargo Corrêa há 13 anos e há três, quando a empresa entrou no Dia do Bem Fazer, me tornei voluntário.
Anualmente, a gente ajuda na estrutura de algum lugar. Seja com a reforma, pintura ou outras atividades. Desde a primeira edição, sou responsável por essa ação em uma creche em Pedro Leopoldo, na Grande BH. No último dia 21, data do Bem Fazer 2011, levei minha família – os filhos Renata, de 12 anos, Renan, de 7, e minha esposa, Rosimar. A grande satisfação é quando você volta, depois de um ano, e vê que aquela reforma da qual participou está preservada. O dia é uma das
maiores ações de voluntariado corporativo do Brasil e envolve 18 empresas, 11 mil voluntários e 135 atividades para beneficiar 72 mil pessoas. Este ano, só em Minas Gerais, alcançamos o número de 1,5 mil trabalhadores voluntários.”

 


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