Jornal Estado de Minas

Especialistas traçam perfil de atirador

Juliana Cipriani

Em choque, parentes choram a morte de 12 crianças em escola no Rio - Foto: AFP PHOTO/VANDERLEI ALMEIDA

Um transtorno mental levado ao extremo, para especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, foi o que levou o jovem de 24 anos Wellington Menezes de Oliveira a cometer o massacre quinta-feira em uma escola da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Pelos relatos e até uma carta deixada por ele antes de atirar em várias crianças e suicidar-se, ele apresentava um quadro de sofrimento mental, que o levou à psicopatia.

Na avaliação do psiquiatra forense e criminólogo Paulo Roberto Repsold, Wellington tinha um transtorno de personalidade do tipo esquizoide. São pessoas emocionalmente frias e desconectadas com o social. Afetivamente, o paciente com esse quadro é muito solitário, introspectivo, um sujeito sem amigos e que não sente o mundo como os demais. “Aí é um terreno muito fácil para algum fanatismo e, se isso fica muito intenso, ele acaba se tornando perigoso porque o mundo dele é aquilo ali e, como o sujeito vive à parte da sociedade, se torna um risco ao fazer coisas em função do fanatismo dele”, disse.

A maioria das pessoas com esse tipo de transtorno não caminha para a criminalidade, conforme o psiquiatra. Torna-se apenas uma pessoa diferente no convívio social. Não há elementos para saber o motivo, mas esse rapaz acabou evoluindo para um comportamento psicopático. “Tudo indica que na curta vida dele o transtorno foi agravado para uma psicopatia, criando uma necessidade aberrante, doentia, cuja satisfação foi cometer essa chacina”, avalia.

Para a psicanalista Fernanda Otoni de Barros Brisset, coordenadora do programa de atenção integral do paciente judiciário do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, o atirador vivia um quadro de muito sofrimento. “Um ato como este diz de uma angústia extrema que encontra saída nessa passagem. Tem algo aí de uma causa mais íntima que não conseguiu sossegar dentro dos recursos que ele tinha e esse sentimento o levou a essa situação, que é de ruptura absoluta com o outro, com o social.”

A psicanalista afirma que o comportamento solitário e sem muito contato social de Wellington pode ter levado a uma postura delirante. “Parece que ele encontrou nesse ato o que a gente chama de triunfo da pulsão de morte. Resolveu com sua própria morte e esse ato sem sentido para todos que receberam o efeito”, disse. Pelos conceitos psicológicos, segundo Fernanda Otoni, o atirador seria portador de um sofrimento mental intenso.