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Estado de Minas O BRASIL QUE ENVELHECE

Abandonados nas ruas e marcados pelo tempo

Exclusão de idosos se mostra mais cruel quando essa parcela da população brasileira não mora com a família ou está fora de asilos, situação vivida por quase 8 mil pessoas


postado em 06/04/2011 07:55

Francisca da Silva vive num acampamento improvisado a poucos metros do Palácio do Planalto, em Brasília, e tenta superar as dores nas pernas para voltar a trabalhar(foto: EDÍLSON RODRIGUES/CB/D.A PRESS - 10/2/11)
Francisca da Silva vive num acampamento improvisado a poucos metros do Palácio do Planalto, em Brasília, e tenta superar as dores nas pernas para voltar a trabalhar (foto: EDÍLSON RODRIGUES/CB/D.A PRESS - 10/2/11)


Sem um lar na companhia da família nem uma instituição coletiva que os abrigue, os idosos que moram nas ruas representam o lado mais cruel da exclusão sofrida nessa faixa etária. A situação é vivida por quase 8 mil pessoas, que representam 25% de toda a população adulta que habita viadutos, bueiros ou simplesmente passam seus dias ao relento no Brasil. Os desafios do governo para garantir uma vida digna a esses idosos são tão grandes quanto a luta diária de cada um pela própria sobrevivência. Ernani Fernandes da Silva já sente o peso da idade na rotina. Há tempos, deixou de circular pela área central de Brasília em busca de latas recicláveis. Com as pernas fracas e os pés inchados, o gaúcho de 80 anos depende, hoje, da caridade de catadores, que levam até ele, em troca de algumas moedas, o material recolhido.

“É difícil, porque tenho de pagar para o pessoal que me ajuda, então perco dinheiro. Mas o que vou fazer? Minhas pernas doem, não tenho mais força para sair puxando esse carrinho”, diz Ernani. Ao reivindicar uma indenização por ter ajudado na construção de Brasília, o senhor de rugas marcadas demonstra falta de conexão com a realidade. Também não sabe detalhar o passado, na cidade de Cruz Alta, onde nasceu. Para dizer a idade e o nome completo, Ernani recorre a documentos cuidadosamente guardados em sacos plásticos sobrepostos — tudo para não correr o risco de molhar, caso chova, a carteira de identidade tirada há pouco tempo.

Assistente social com mais de 30 anos de experiência na área do idoso, Maria Luciana destaca a situação de vulnerabilidade dos mais velhos em situação de rua exatamente pelo fato de grande parte ter distúrbios mentais, envolvendo dependência alcóolica, além da falta de referência familiar. “Aí caímos novamente no problema da ausência de assistência de saúde, além da quase inexistente estrutura de abrigos. Faltam vagas nas instituições de longa permanência e as casas de acolhimento transitório são locais precários”, diz Luciana. Uma simples pergunta sobre o albergue público do Distrito Federal foi o suficiente para deixar Ernani completamente transtornado. “Prefiro morrer”, grita o idoso. A Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda do DF (Sedest) não autorizou a entrada da reportagem no albergue.

Melhor que o albergue público, na avaliação de Ernani, é a barraca de lona azul, que atualmente ele costuma montar próximo ao Hospital de Base, na Asa Sul, à noite. Parte dos poucos pertences — que incluem uma cadeira de plástico branca e o carrinho onde põe as latas recicláveis — foi comprado com o salário mínimo que ele recebe de benefício da Previdência Social. Tal assistência, porém, não chega a todos os idosos nas ruas.

De roupas rasgadas, pele escura e cabelos embranquecendo, o homem que se apresenta apenas como Severino vive, exclusivamente, da caridade alheia. Há meses dormindo na Praça do Relógio, no Centro de Taguatinga, ele pede comida aos donos de restaurantes. Comerciantes e taxistas do local apontam o idoso, que diz ter “sessenta e tanto”, como um homem calmo, educado e sem vícios. Apesar da convivência pacífica, o passado de Severino é quase desconhecido pelas pessoas que o auxiliam, de alguma forma, todos os dias. Nascido em São José do Egito, em Pernambuco, ele diz que não sabe como foi parar no Distrito Federal. “Não me lembro, não. Só sei que fico por aí, andando.”

A velhice ao relento

A proporção de pessoas de 55 anos ou mais na rua é maior que na população adulta total. Veja os dados:
Na população total adulta, pessoas de 55 anos ou mais representam 22%

Na população adulta que mora na rua, pessoas de 55 anos ou mais representam 25%

31.922


Número de adultos morando na rua no Brasil, segundo levantamento do governo federal em 72 municípios, englobando os de maior porte do país.

Obs.: Embora para ser considerado idoso, no país, seja preciso ter 60 anos ou mais, o corte etário feito na pesquisa é de 55 anos.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)


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