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Estado de Minas

Quando a rua é a única opção


postado em 09/11/2008 11:20 / atualizado em 08/01/2010 04:04

Brasília – Marcelo Mathias Lima, de 30 anos, exibe a carteira de trabalho já bastante gasta. O último carimbo data de 16 de junho de 2006, quando perdeu o emprego na Fazenda Campo Aberto, Zona Rural de Barreiras (BA). Em Brasília desde então, conseguiu bicos como soldador, mas nunca mais teve ficha em empresa. “Não consigo arrumar serviço”, lamenta. Sem renda fixa nem perspectiva de emprego, ele arrumou abrigo debaixo do Viaduto Ayrton Senna, na estrada Epia. Divide uma barraca de camping com a companheira, Kátia Araújo, 35 anos.

A mulher também está desempregada. Sempre trabalhou como faxineira, mas, há dois anos, sofreu um acidente doméstico. Estava cozinhando no fogão a lenha, em Santa Maria, quando a garrafa de álcool caiu no fogo. Kátia ficou seis meses internada no Hospital Regional da Asa Norte, com a metade superior do corpo tomada por queimaduras. Por causa da aparência, acredita, não consegue mais emprego. “As pessoas têm preconceito. Quando cheguei aqui (no viaduto), tive medo de me matarem, de não suportar, de não ter o que comer nem vestir. Até porque não quero cair na prática de manguear”, diz, referindo-se à gíria usada pelos moradores de rua para definir a mendicância.

O casal é um dos 32 mil adultos brasileiros que vivem nas ruas, de acordo com levantamento do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome em 23 capitais e 48 cidades com mais de 300 mil habitantes. A pesquisa foi feita para subsidiar o trabalho do grupo interministerial coordenado pelo MDS, que elaborou o projeto de uma política nacional de assistência ao morador de rua. O texto encontra-se no site do ministério, para consulta pública.

Perfil
De acordo com a pesquisa, a população de rua não é composta por mendigos. Apenas 16% sobrevivem de donativos. Cinqüenta e nove por cento têm profissão, embora 48% nunca tenham tido carteira de trabalho assinada. “Para atender essa população, que se encontra em extrema vulnerabilidade, é necessário um conjunto de ações em várias áreas, como assistência social, saúde e trabalho”, diz Solange Martins, coordenadora-geral da Proteção Social Especial do MDS.

O jornalista Alderon Costa, coordenador da Associação Rede Rua, afirma que os números sobre a população de rua são incertos. Somente em São Paulo, a estimativa é de 15 mil pessoas, sendo que, em 1990, não passavam de 3 mil. Alderon conta que o perfil do morador de rua está mudando. “O que temos visto são famílias inteiras indo morar na rua. Uma coisa que não ocorria com tanta freqüência cinco anos atrás”, afirma. Para ele, as políticas devem ser preventivas, e não apenas de assistência. “Depois que a pessoa cai na rua, é muito difícil tirá-la. Se houvesse uma medida preventiva, o Estado economizaria, as pessoas não sofreriam tanto e a cidade não teria o incômodo de tentar criar políticas higienistas que tiram os moradores de rua à força, como vem ocorrendo no centro de São Paulo”, critica. (PO)


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