Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

Vídeo não mostra 'líder do MST' sendo preso com avião carregado de drogas


 

Uma filmagem que mostra três homens imobilizados junto a um avião foi compartilhada mais de 400 vezes desde, pelo menos, 29 de março de 2022. As publicações, que circulam desde 2019, alegam que o vídeo mostra “Bruno Maranhão, um dos líderes fortes do MST” e “braço direito do Lula” sendo preso com uma aeronave carregada de drogas, armas e dinheiro. Mas isso é falso. As imagens mostram uma operação de 2018 deflagrada pela Polícia Federal em São Paulo. Reportagens e um comunicado emitido pela PF na época não citam o MST. Além disso, o homem na gravação não poderia ser Bruno Maranhão, que morreu em 2014, quatro anos antes da operação.





“Bruno Maranhão, um dos Líderes fortes do MST. Foi preso com o avião carregado de drogas, armas e dinheiro.  BRAÇO DIREITO DE LULA nas Invasões  de Terra. Direitos Humanos!!! E agora????”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Twitter e no TikTok.

Uma busca reversa por um dos fragmentos do vídeo no Google usando a ferramenta InVid WeVerify* levou a um artigo em espanhol que contém as mesmas imagens, alegando que a gravação mostra três venezuelanos detidos em Aruba com quase uma tonelada de ouro.

Mas isso também é falso. Uma análise do vídeo viralizado permitiu identificar a inscrição “WUO” no avião. Uma busca na aba “imagens” do Google pelos termos “monomotor amarelo listra azul" mostrou como resultado fotos do mesmo modelo, com a nomenclatura completa. Uma nova pesquisa por “avião monomotor PT-WUO" levou a uma reportagem da Record TV sobre uma operação conjunta entre polícias Federal e Militar em março de 2018 que resultou na apreensão de mais de uma tonelada de maconha. 



“A Polícia Federal já monitorava as ações da quadrilha e descobriu que um grande carregamento de drogas teria saído do Mato Grosso do Sul com destino a Paraguaçu Paulista”, diz a reportagem.

A matéria informa que três pessoas foram presas: um deles era o piloto do avião, José Albano Martins das Neves, e os outros dois homens que foram presos em flagrante no local da operação: Ronaldo Camilo dos Reis e João Franco de Lacerda. Não há qualquer menção a Bruno Maranhão ou ao MST na matéria.

Uma nova busca por “vídeos” no Google, usando as palavras-chaves “polícia federal são paulo 2018 avião” localizou uma reportagem do Portal G1, datada de 26 de março de 2018, que contém, aos 17 segundos, o trecho do vídeo viralizado com a inscrição “WUO”. 





 

Comparação feita em 6 de abril de 2022 entre uma publicação no Facebook (E) e uma reportagem do portal G1 de 2018 (foto: Reprodução)

A notícia também descreve que as imagens foram feitas durante uma operação da Polícia Federal que apreendeu um avião agrícola carregado com quilos de maconha em Paraguaçu Paulista (SP) em março de 2018. A reportagem tampouco cita o nome de Bruno Maranhão ou o Movimento dos Sem Terra (MST).  

Outras reportagens da época também não citam que os detidos teriam relação com o MST (1, 2, 3).

Diferentemente do que dizem as publicações viralizadas, Maranhão, na verdade, era líder de um movimento político dissidente do MST, o MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra). Ele faleceu em 2014, quatro anos antes, portanto, da operação deflagrada pela Polícia Federal mostrada nas imagens. 

Ainda segundo a reportagem do G1, pouco depois da apreensão foi deflagrada uma operação chamada “Voo Cego”.

O Checamos procurou a Polícia Federal em Marília e obteve um texto de comunicação social emitido pela entidade à época. 



“A Polícia Federal em Marília deflagrou hoje a ‘Operação VOO CEGO’ em continuidade às investigações que culminaram com a apreensão de drogas e um avião em Paraguaçu Paulista (SP), cerca de 3 semanas atrás. Na época, foram presas 3 pessoas que atuavam no tráfico de drogas, a partir do transporte de maconha em avião de pulverização agrícola”, diz o texto. O restante do comunicado tampouco menciona qualquer envolvimento do MST.

Bruno Maranhão foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), sigla do ex-presidente Lula. Em 2006, foi preso por participar de uma manifestação que invadiu a Câmara dos Deputados e deixou feridos. Após seu falecimento, em 2014, o Instituto Lula divulgou uma nota de pesar descrevendo-o como “um grande companheiro, amigo e um grande militante da esquerda brasileira”.

Verificação semelhante foi feita pelo Aos Fatos, pelo Estadão Verifica, pelo Fato ou Fake e pelo Projeto Comprova

*Uma vez instalada a extensão InVid-WeVerify no navegador Chrome, clica-se com o botão direito sobre a imagem e o menu que aparece oferece a possibilidade de pesquisa da mesma em vários buscadores.