Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

A imagem de uma criança no Mississippi nos anos 30 não é um retrato do músico Louis Armstrong

Uma foto que supostamente mostra o astro do jazz Louis Armstrong durante sua infância foi compartilhada mais de 10 mil vezes em redes sociais desde o último dia 11 de junho. No entanto, a imagem não tem relação com o músico norte-americano: trata-se de uma criança não identificada que foi retratada no início dos anos 30, no estado do Mississippi, durante uma operação da Cruz Vermelha. 



“Uma família judia Karnofsky, que emigrou da Lituânia para os Estados Unidos, ficou com pena do menino de 7 anos e o trouxe para sua casa. Lá ele ficou e passou a noite nesta casa de família judia, onde pela primeira vez em sua vida foi tratado com bondade e ternura. (...) O nome desse menino era Louis Armstrong”, dizem as publicações que compartilham a imagem no Facebook (1, 2, 3) e Instagram

A foto circula com legendas semelhantes em espanhol, inglês e francês

Uma criança anônima nos anos 30 


No entanto, a imagem compartilhada nas redes não tem nenhuma relação com o famoso músico de jazz de Nova Orleans, no sul dos Estados Unidos.



Uma busca reversa com o motor Yandex mostra que ela foi publicada no site da Biblioteca do Congresso norte-americano. Segundo o título da foto, ela retrata “uma criança afro-americana segurando uma fruta recebida durante uma campanha da Cruz Vermelha para mitigar a seca no Mississippi”

De acordo com a descrição disponível na página da biblioteca, o registro foi feito em 1930 ou em 1931 pelo sociólogo e fotógrafo norte-americano Lewis Hine, um dos pioneiros da fotografia social. 

Embora a identidade da criança vista na foto viralizada seja desconhecida, é impossível que trate-se de Louis Armstrong. Nascido em agosto de 1901, o músico teria 29 ou 30 anos quando a fotografia foi feita.




No site da biblioteca norte-americana estão disponíveis outras fotos com temas semelhantes (1, 2).

Antes da fama, uma infância difícil 

Embora a imagem compartilhada nas redes não tenha relação com Louis Armstrong, a história que acompanha as publicações se aproxima mais da realidade. Os textos explicam que o jovem Louis passou por vários lares para crianças negras abandonadas até ser acolhido, em 1907, pelos Karnofsky, uma família judia “que emigrou da Lituânia para os Estados Unidos”.

A estrela do jazz nasceu e foi criada em um bairro conhecido por sua periculosidade em Nova Orleans, Louisiana. Como explica o site da casa-museu onde viveu por quase 30 anos, Armstrong deixou os estudos ao terminar a escola primária e foi contratado pela família Karnofksy. 



A família o encorajou a se interessar pela música. De fato, Morris Karnofsky o ajudou a “comprar seu primeiro instrumento musical, uma corneta”, como relatou o músico em um texto intitulado “Louis Armstrong e a família judia em Nova Orleans”, que escreveu em seu leito de morte no hospital nova-iorquino Beth Israel.
Captura de tela do site da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos feita em 18 de agosto de 2021

Após receber o apoio e o treinamento de vários trompetistas, Louis Armstrong se tornou um músico de renome mundial nas décadas de 1920 e de 1930. Apelidado de “Satchelmouth” e depois de “Satchmo”, em referência ao tamanho de sua boca, o artista é reconhecido por ter transformado o mundo do jazz, especialmente ao incorporar solos improvisados ao gênero musical. 
O músico de jazz norte-americano Louis Armstrong toca trompete em um espetáculo com sua orquestra em 1947 em Nova York ( AFP / Eric Schwab)

Armstrong faleceu de uma parada cardíaca em 6 de julho de 1971 enquanto dormia, em Nova York. 

audima