Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

A repórter com traje de proteção fazia matéria sobre fábrica de roupas para profissionais da saúde


 

A foto de uma jornalista com equipamentos de proteção em frente a uma câmera, enquanto o cinegrafista que a filma vestia roupas usuais, voltou a ser compartilhada nas redes em abril de 2021 com a afirmação de que esse é um exemplo de como a mídia fabrica pânico durante pandemia de covid-19. Mas a imagem, de março de 2020, foi registrada durante a realização de uma reportagem sobre uma fábrica local de roupas de proteção para profissionais da saúde, na qual a repórter experimentou um dos trajes para demonstrá-lo em uma aparição ao vivo.





“Um exemplo de como a mídia fabrica o pânico: por que a repórter tá usando luvas, máscara e roupas especiais e o cameraman não??”, questionam as publicações compartilhadas mais de 63,9 mil vezes no Facebook (1, 2) desde o fim de março de 2020, e que voltaram a viralizar nas redes em abril de 2021 (1, 2).

A imagem também circulou amplamente no Instagram (1, 2) e no Twitter (1, 2) desde então, fazendo com que alguns usuários questionassem a gravidade da pandemia e criticassem a imprensa.

No entanto, um comentário feito em uma das publicações da imagem no Facebook indicava o contexto original do registro: uma reportagem sobre uma fábrica de trajes de proteção.

A partir de uma busca por palavras-chave, a equipe do Comprova, projeto do qual o AFP Checamos faz parte, chegou à conta no Twitter de Ghinwa Yatim, a repórter vista na gravação, onde ela explica, em inglês, do que se tratava a matéria.



Segundo a jornalista, a reportagem mostrou uma fábrica que produzia equipamentos médicos com materiais alternativos no Líbano, uma vez que estava havendo dificuldade na importação de trajes de proteção contra o coronavírus em meio à crise da economia do país.

De acordo com uma explicação de Yatim no Twitter, a fabricação local de roupas poderia reduzir a crise de importação de equipamentos.

Em sua rede social, a repórter acrescentou que durante a entrada ao vivo, em 18 de março de 2020, indicou que naquele momento não havia motivo para pânico em Beirute, de onde ela realizava a transmissão.



A reportagem veiculada pelo canal Al Hadath, com sede em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, mostrava a produção de trajes de proteção contra o coronavírus por mulheres libanesas para o uso de equipes médicas de hospitais.

Enquanto entrava ao vivo de uma rua de Beirute para fazer a reportagem, Yatim foi filmada por uma terceira pessoa. O produtor e videojornalista Michael Downey, que compartilhou o vídeo visualizado por quase dois milhões de pessoas, criticou a repórter: “Se o seu fotógrafo não precisa disso, você definitivamente não precisa”.

Na mesma sequência de tuítes, e devido à repercussão nas redes, Yatim também explicou que apenas estava experimentando um traje especialmente produzido para ela na fábrica e que usou a vestimenta apenas para abordar o tema, motivo pelo qual não havia necessidade de o cinegrafista fazer o mesmo.



Uma jornalista da AFP que fala árabe confirmou o que a repórter disse durante a matéria sobre a intenção de estar vestindo o traje e o fato do cinegrafista, não.

Yatim acrescentou que naquele momento Beirute já estava em quarentena (1, 2) e que escolheu uma rua mais vazia para gravar a entrada ao vivo.

Em 21 de março de 2020, quando a repórter publicou as explicações, o Líbano, com 6,8 milhões de habitantes, registrava 230 casos de coronavírus e quatro mortes. Mais de um ano depois, até o dia 8 de abril de 2021, o país tinha mais de 489 mil casos e de 6,5 mil mortes.

Esse texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas do Estadão. O material foi adaptado pelo AFP Checamos.

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