Você temia por esse momento.
Enquanto pede a seu tio para passar o pernil, ele casualmente menciona que uma vacina contra o coronavírus será usada para injetar microchips em nossos corpos para nos rastrear.
Ou seu cunhado, depois de algumas cervejas, começa a falar sobre como a covid-19 não passa de uma "gripezinha".
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Os especialistas seguem recomendando que os brasileiros evitem aglomerações, especialmente diante da aceleração do número de casos de covid-19. Apesar dos riscos evidentes, entretanto, muitas famílias planejam comemorar o Natal com um encontro presencial.
Infectologistas e outros especialistas explicam que há medidas que podem tornar os encontros menos inseguros, embora destaquem que não é possível eliminar os riscos, apenas contê-los.
Mas, seja nas confraternizações virtuais ou presenciais, como debater fake news e teorias da conspiração sem arruinar a festa?
1) Mantenha a calma
Embora seja importante confrontar notícias falsas, de nada adianta se tudo termina em uma discussão inflamada.
"Minha regra número um é não estragar o Natal", diz o britânico Mick West, autor de livros de ciência.
"Uma conversa raivosa e acalorada deixará todos se sentindo mal e ainda contribuirá para consolidar as crenças conspiratórias."
O psicólogo Jovan Byford, professor da Open University, observa que as teorias da conspiração costumam ter uma forte dimensão emocional.
"Elas não tratam apenas de certo e errado", diz ele, "mas são sustentadas por ressentimento, raiva e indignação sobre como o mundo funciona."
Essas teorias cresceram neste ano, diante da busca por explicações para a pandemia, das eleições americanas e dos grandes eventos mundiais.
Catherine, da Ilha de Wight, entende isso como ninguém. A britânica de 38 anos acreditava piamente em conspirações que pregavam que as vacinas eram usadas deliberadamente para prejudicar as pessoas. Mas mudou de opinião.
"É extremamente importante manter a calma o tempo todo", diz ela. "A pessoa com quem você está falando costuma ser tão apaixonada quanto você por suas próprias crenças e as defenderá até o túmulo."
E lembre-se: virologistas dizem que gritar aumenta a chance de espalhar o coronavírus.
Mais uma razão para manter a conversa em tom sereno.
2) Não desdenhe de seu interlocutor
"Fale com amigos e familiares com empatia em vez de sarcasmo", diz Claire Wardle, da First Draft, uma organização sem fins lucrativos que luta contra a desinformação. "Ouça o que eles têm a dizer com paciência."
A regra de ouro é: nunca envergonhe alguém publicamente por seus pontos de vista. É provável que o tiro saia pela culatra.
"Se você decidir discutir teorias da conspiração, não despreze as crenças da outra pessoa", concorda Byford. "Estabeleça algum tipo de consenso."
Lembre-se de que as pessoas costumam acreditar em teorias da conspiração porque, no fundo, estão preocupadas ou ansiosas. Tente entender esses sentimentos — principalmente em um ano como o que acabamos de ter.
3) Incentive o pensamento crítico
Pessoas que acreditam em teorias da conspiração costumam dizer: "Faço minha própria pesquisa."
O problema é que a pesquisa delas tende a se restringir a vídeos obscuros no YouTube, seguir pessoas aleatórias no Facebook e selecionar evidências de contas tendenciosas do Twitter.
Mas o espírito de dúvida que permeia a internet conspiratória possibilita abrir caminho para o pensamento racional, diz Byford.
"Muitas pessoas que acreditam em teorias da conspiração se consideram desconfiadas e pesquisadores autodidatas em questões complexas", diz ele. "Apresente isso como algo que, em princípio, você valoriza e de que compartilha".
"Seu objetivo não é torná-las menos curiosas ou céticas, mas mudar sobre o que elas estão curiosas ou céticas."
Isso foi o que ajudou Phil, de Belfast. Ele costumava acreditar em conspirações do 11 de setembro.
"Costumava apontar o fato de que havia vários especialistas que duvidavam das histórias oficiais. Isso foi muito convincente para mim", explica. "Por que esses especialistas mentiriam?"
Mas então ele começou a aplicar ceticismo não apenas às "fontes oficiais", mas também aos "especialistas" alternativos que acompanhava.
Ele desenvolveu uma compreensão mais profunda do método científico e do próprio ceticismo. Só porque um especialista acredita em algo, isso não significa que seja verdade.
"Você pode encontrar especialistas e pessoas muito inteligentes que dão crédito a qualquer posição", diz ele.
"Concentre-se em quem está promovendo essas ideias e em suas intenções", diz Claire Wardle. "Por exemplo, ganho financeiro com a venda de suplementos de saúde ou ganho de reputação na construção de seguidores."
4) Faça perguntas
Checagem de fatos é importante, mas muitas vezes não é a abordagem mais eficaz quando alguém acredita apaixonadamente em conspirações. As perguntas são muito mais eficazes do que as afirmações, dizem os especialistas.
"Focar nas táticas e técnicas usadas pelas pessoas que promovem a desinformação é uma forma mais eficaz de abordar essas conversas do que tentar desmascarar as informações", diz Wardle.
Pense em perguntas gerais que incentivem as pessoas a pensar sobre o que acreditam. Por exemplo, algumas de suas crenças são contraditórias? Os detalhes da teoria que elas descrevem fazem muito sentido? Elas pensaram sobre a contra-evidência?
"Ao fazer perguntas e levar as pessoas a perceber suas falhas, elas podem duvidar de sua própria confiança e ouvir pontos de vista alternativos", diz Phil.
5) Não espere resultados imediatos
Você pode estar esperando que uma conversa construtiva termine com algum tipo de epifania em meio às rabanadas — mas não aposte nisso.
Para aqueles que confiam absolutamente nas teorias de conspiração, deixá-las de lado pode ser um processo muito longo.
"Seja realista sobre o que você pode alcançar", diz Byford. "As teorias da conspiração instilam nos crentes um senso de superioridade. É um importante gerador de autoestima — o que os tornará resistentes a mudanças."
Para a checadora de informações Claire Wardle, não se trata apenas de egos feridos. Este ano foi assustador — e para muitos, as teorias da conspiração têm sido uma fonte de conforto.
"Reconheça que todos tiveram suas vidas viradas de cabeça para baixo e estão buscando explicações", diz ela.
"As teorias da conspiração tendem a ser histórias simples e poderosas que explicam o mundo. A realidade é complexa e confusa, o que é mais difícil para o nosso cérebro processar."
Mas os especialistas concordam que, mesmo que você não veja resultados imediatos, não desista.
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