Jornal Estado de Minas

KANO

Jihadistas do Boko Haram e Estado Islâmico lutam pela supremacia na Nigéria

Os dois principais grupos jihadistas da Nigéria travaram batalhas sangrentas pela supremacia em seu reduto no nordeste nas últimas semanas, segundo fontes das forças de segurança e moradores.



Uma insurreição jihadista afeta o estado de Borno há 14 anos, onde os grupos Boko Haram e o Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP) controlam partes do território e aumentam os ataques, um grande desafio para o recém-eleito presidente Bola Tinubu.

Rivais de longa data, os dois grupos começaram a se enfrentar por divergências ideológicas. O ISWAP, que surgiu em 2016 de uma divisão dentro do Boko Haram, se opõe ao assassinato de muçulmanos.

Essa rivalidade se transformou em uma guerra de supremacia em torno do lago Chade, onde cada um exerce sua influência. Nas últimas semanas, os combates se intensificaram, causando centenas de mortes, principalmente nas cidades de Gerere e Juma'a Toro, próximas à fronteira com o Níger.

"Sabemos de confrontos entre terroristas, o que é bom para nós, e estamos monitorando como isso evolui", disse à AFP uma fonte da inteligência nigeriana.

"É difícil fazer um balanço dos dois lados, mas os números são enormes. Fala-se de 200 mortos, só em Juma'a Toro", acrescenta esta fonte, que pediu anonimato.



Pescadores nas ilhotas do Lago Chade dizem ter ouvido explosões e disparos vindos de Gerere e Juma'a Toro.

"Os combates são muito intensos. Ouvimos fortes explosões (...), especialmente à noite", disse um deles à AFP, Abubakar Alka.

"De acordo com as poucas (informações) que recebemos, os combates podem durar algum tempo, já que o Boko Haram fornece armas em seu enclave no lado nigeriano do lago", acrescentou Alka.

- Caminhar ou morrer -

A bacia do lago Chade, que se estende por Nigéria, Níger, Camarões e Chade, é uma vasta superfície de água, ilhotas e pântanos, onde Boko Haram e ISWAP instalaram suas tocas.

Os confrontos recentes começaram em 19 de fevereiro, quando os combatentes do Boko Haram invadiram os acampamentos do ISWAP em Tumbun Gini e Kayowa, de acordo com outro pescador familiarizado com as atividades de grupos jihadistas.

Abubakar Kannai, um alto comandante do Boko Haram, auxiliado por dois tenentes, lançou um ataque a duas ilhotas controladas pelo ISWAP. Conseguiu invadir uma prisão e libertar vários detidos e reféns, segundo esta fonte.

"Os confrontos duraram desde a madrugada até à tarde e obrigaram o ISWAP a abandonar" o local, disse este pescador, que pediu anonimato.



Os homens do Boko Haram "prometeram retomar todas as ilhotas que alegavam pertencer a eles antes de serem tomadas pelo ISWAP", disse ele.

Em retaliação, o ISWAP lançou ataques aos acampamentos do Boko Haram perto da floresta de Sambisa, um conhecido reduto dos jihadistas, matando várias pessoas, segundo Ibrahim Liman, chefe da milícia local.

Em 24 de fevereiro, véspera da eleição presidencial, os combatentes do Boko Haram fugiram e o êxodo levou à rendição de centenas deles e de suas famílias, disse Liman.

O exército nigeriano anunciou que matou "cerca de trinta terroristas" do Boko Haram na semana passada e deteve 960 pessoas, incluindo mulheres e crianças, que fugiram da vizinha Nigéria.

O ISWAP se tornou o grupo dominante na região depois de matar o chefe de longa data do Boko Haram, Abubakar Shekau, em maio de 2021. Temendo a execução, alguns combatentes do Boko Haram se juntaram ao grupo rival. Os outros se entregaram ou fugiram.

Bola Tinubu, eleito presidente do país mais populoso da África em fevereiro, prometeu um recrutamento em larga escala de soldados e policiais.

Mas os analistasm temem que, sem uma nova estratégia e reforma das forças de segurança, o impasse continuará no nordeste.

Desde o início da rebelião do Boko Haram, em 2009, o conflito causou mais de 40.000 mortes e dois milhões de deslocados, segundo a ONU.