Jornal Estado de Minas

ROMA

Itália avança para eleições em outubro após renúncia de Draghi

O primeiro-ministro italiano Mario Draghi apresentou sua renúncia nesta quinta-feira (21), informou a assessoria de imprensa da Presidência, depois que seu governo de coalizão de unidade nacional entrou em colapso.



Draghi "reiterou sua renúncia e a do Executivo que chefia", disse a presidência em um breve comunicado, especificando que "foi informada" da decisão e que ele permanecerá no cargo por enquanto para "dirigir os assuntos atuais".

Muito aplaudido nesta quinta-feira na Câmara dos Deputados, Draghi solicitou de imediato a suspensão da sessão para se deslocar ao palácio presidencial do Quirinal, onde chegou pouco depois das 09h15 locais (04h15 em Brasília) para comunicar a sua "decisão" ao presidente Sergio Mattarella.

O chefe de Estado, árbitro da política na Itália, deve abrir um processo, de acordo com as regras de uma democracia parlamentar, que na opinião de muitos observadores levará a eleições antecipadas para a primeira ou segunda semana de outubro.

Uma conclusão esperada depois que o Força Itália, partido de direita de Silvio Berlusconi, a Liga, partido de extrema-direita de Matteo Salvini e o partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5E) se recusaram a participar de um voto de confiança solicitado na quarta-feira pelo primeiro-ministro no Senado.

A queda do "Super Mario", designado para salvar a Itália em fevereiro de 2021 em um momento de crise social, econômica e sanitária, gerou fortes reações em toda a península.

"Itália traída" foi o título do jornal La Repubblica, enquanto La Stampa, jornal próximo dos industriais, se limitou a escrever "Vergonha" na página inteira.



De acordo com as pesquisas, a maioria dos italianos quer que Draghi permaneça no cargo, uma das razões pelas quais ele recuou na quarta-feira e não confirmou sua primeira renúncia. No entanto, não conseguiu fazer com que os partidos de sua coalizão se alinhassem em torno de um "pacto" de governo que ele propôs em um longo e denso discurso no Senado.

- Direita favorita -

Os partidos de direita que faziam parte do Executivo esperam ganhar as eleições e decidiram derrubar o primeiro-ministro sob o pretexto de não querer mais governar junto com o Movimento 5 Estrelas.

Por sua vez, os antissistemas, que iniciaram a crise na semana passada, consideram que vários pontos das leis propostas por Draghi são contrários aos seus princípios e que todas as medidas tomadas durante o seu governo anterior foram desmanteladas.

O fim do Executivo de unidade poderia, sobretudo, beneficiar a coalizão de direita liderada pelo partido pós-fascista Fratelli d'Italia (Irmãos da Itália), liderado por Giorgia Meloni, que segundo as pesquisas ganharia confortavelmente as eleições antecipadas.



"Estamos prontos. Esta nação precisa desesperadamente recuperar sua consciência, seu orgulho e sua liberdade", tuitou nesta quinta-feira Giorgia Meloni, 45, uma veterana líder de extrema-direita que pode se tornar a futura chefe de governo da Itália.

Essa perspectiva preocupa os europeus, já que o seu partido, os Irmãos de Itália, com 24% das intenções de voto, defende uma revisão dos tratados da União Europeia e até a sua substituição por uma "confederação de Estados soberanos".

O comissário europeu para a Economia, o italiano Paolo Gentiloni, considerou "irresponsável" a deserção dos partidos da coalizão, enquanto Bruxelas e seus parceiros europeus pressionaram para que Draghi permanecesse no cargo.

Os mercados observam cuidadosamente a situação. O custo da dívida da Itália subiu novamente e a Bolsa de Valores de Milão fechou em queda de 1,6% na quarta-feira, um sinal de nervosismo devido à incerteza na terceira maior economia da zona do euro.