Jornal Estado de Minas

BUENOS AIRES

Morre Giovanola, fundadora da organização argentina Avós da Praça de Maio

Delia Cecilia Giovanola, uma das fundadoras da organização humanitária argentina Avós da Praça de Maio, morreu nesta segunda-feira (18) aos 96 anos, sete depois de reencontrar o neto, sequestrado após ter nascido em cativeiro durante a última ditadura (1976-1983).



"Partiu uma mulher batalhadora, militante da memória, verdade, justiça e da alegria", escreveu a organização, criada em 1977.

Em 5 de novembro de 2015, após 39 anos de buscas, Giovanola conseguiu conhecer Martín Ogando Montesano, seu neto. Meses antes, ele havia concordado em fazer o teste de DNA no consulado argentino no país onde mora, que nunca foi divulgado, o que lhe permitiu "verificar sua identidade com 99,99% de certeza".

Foi o 118º neto recuperado pelas Abuelas (avós, em espanhol), que estimam que 400 crianças foram sequestradas durante a ditadura. Outros 12 apareceram desde então e ela, como outras avós, acompanhou cada reencontro.

Martín é filho de Jorge Oscar Ogando e Stella Maris Montesano, militantes de esquerda sequestrados em sua casa em La Plata, 60 km ao sul de Buenos Aires, em 1976, quando ela estava grávida de oito meses. O casal já tinha uma filha, Virginia, de três anos.

Através de depoimentos dos sobreviventes, descobriu-se que o casal foi levado para o centro de detenção clandestino chamado 'Pozo de Banfield', na periferia sul de Buenos Aires. Foi lá que a jovem deu à luz em 5 de dezembro de 1976, "algemada, com os olhos vendados e em cima de um lençol", segundo o comunicado.



"Dois dias depois, foi separada de seu bebê, que foi vendido a um casal, e levada para o 'Pozo de Quilmes'", outra prisão clandestina. O casal continua desaparecido.

Em outubro de 1977, Delia fazia parte do grupo de mulheres que fundou as 'Abuelas'. Além de procurar seus filhos sequestrados e desaparecidos, como faziam as Mães da Praça de Maio, dedicavam-se a procurar bebês nascidos em cativeiro e entregues ilegalmente a famílias, geralmente cúmplices do regime.

Uma foto de Giovanola na Praça de Maio com um cartaz que dizia "As Malvinas são argentinas, os desaparecidos também", em plena guerra com o Reino Unido em 1982, se tornou emblemática.

Organizações de defesa dos direitos humanos estimam que 30.000 pessoas desapareceram nesse período.