Na presença do coordenador do relatório da Comissão da Verdade, Francisco José de Roux, e da vice-presidente e chanceler Marta Lucía Ramírez, o chefe da Missão de Verificação da ONU na Colômbia, Carlos Ruiz Massieu, lembrou que nas últimas duas semanas quatro ex-combatentes foram assassinados.
Com isso, segundo as estimativas da ONU, já são 331 ex-militantes das FARC mortos desde a assinatura, em 2016, do acordo de paz entre a guerrilha e o governo de Juan Manuel Santos.
"Uma prioridade para qualquer acordo de paz deve ser a salvaguarda das vidas daqueles que depuseram suas armas de boa fé com a garantia de que seriam protegidos", disse Ruiz Massieu.
O funcionário da ONU culpou "atores armados ilegais" pela violência contra "comunidades, líderes e ex-guerrilheiros" em áreas marcadas pela pobreza e economias ilícitas, onde a presença do Estado é "limitada".
- 'Transparência' -
Respondendo às denúncias dos últimos dias sobre o possível desvio de recursos destinados aos programas de implementação do Acordo de Paz, Ruiz Massieu pediu "transparência" no uso desse dinheiro.
Em uma coletiva de imprensa, posterior à reunião do Conselho de Segurança, o representante da ONU na Colômbia assegurou que o "tema é muito importante" e pediu às autoridades que se "houver algum delito, que seja combatido", mas ressaltou não ter "mais informação do que o que está nos meios de comunicação".
Marta Lucía Ramírez, por sua vez, garantiu aos jornalistas que seu governo trata desse assunto com "a maior preocupação" e solicitou que "qualquer pessoa que tiver informação sobre qualquer desvio de recursos", que informe as autoridades, pois "necessitamos informações certas" para fazer com que os corruptos prestem contas à Justiça, afirmou.
Para Juan Carlos Vargas Morales, assessor presidencial para a Estabilização, "chegaram algumas denúncias e relatos anônimos". "Pedimos as provas, mas elas nunca chegaram", disse, depois de esclarecer que os recursos dependerão do andamento da economia.
O relatório, elaborado entre 26 de março e 27 de junho, é o último da presidência do conservador Iván Duque, que passará o bastão em 7 de agosto ao vencedor das eleições presidenciais de 19 de junho, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro.
Antes, em 20 de julho, tomará posse o novo Congresso, que contará com 16 deputados de zonas de conflito e 30% de mulheres, em "um reflexo da diversidade da vibrante sociedade colombiana", disse Ruiz Massieu.
O representante da ONU espera que o novo Congresso aprove mais de trinta normas relacionadas à paz que ainda estão pendentes, como a reforma agrária e garantias de participação política.
"O próximo governo tem uma enorme oportunidade e responsabilidade para acelerar a implementação do Acordo de Paz", lembrou, antes de concluir que "há boas, muito boas razões para otimismo".
O padre Francisco de Roux lembrou que mais de 10 milhões de pessoas foram afetadas pela guerra e que 450.000 morreram entre 1985 e 2018 - em sua grande maioria civis.
Comunidades inteiras foram destruídas, enquanto mais de 8 milhões foram forçados a fugir de suas casas.
"É doloroso ver que todos na Colômbia sabiam o que estava acontecendo. O mundo sabia o que estava acontecendo", disse ele.
Depois de pedir à comunidade internacional que contribua para a paz, acrescentou: "Queremos fazer da Colômbia o paradigma da reconciliação".
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