Jornal Estado de Minas

CARACAS

Igreja Católica diz investigar casos de abuso sexual na Venezuela após denúncias

A Igreja Católica venezuelana informou nesta quarta-feira (6) que abriu uma investigação sobre os casos de abuso sexual cometidos contra menores por parte de membros da instituição, após a reportagem do jornal americano The Washington Post sobre a readmissão de padres condenados.



"Nos sentimos profundamente consternados e magoados diante das situações de abuso", disse o primeiro vice-presidente da Conferência Episcopal da Venezuela, Mario Moronta, em coletiva de imprensa, na qual garantiu que a Igreja "colaborou para o esclarecimento dos fatos".

"Os bispos não se opuseram nem se opõem à atuação dos órgãos competentes da justiça civil nessa questão dos abusos", ressaltou o religioso. Segundo ele, essa investigação levará "meses ou muito mais tempo".

"É preciso verificar todos os dados, não apenas das vítimas, mas também de outras pessoas", afirmou. "Mantemos os dados em confidencialidade por respeito às vítimas, mas também porque estamos fazendo um estudo bastante sério a respeito", explicou.

The Washington Post publicou há duas semanas uma investigação de 10 casos que "envolvem denúncias de abuso sexual infantil" por parte de sacerdotes na Venezuela. O jornal descobriu que metade dos condenados por abuso entre 2001 e 2022 "foram libertados antes do tempo" ou "não cumpriram nenhum" tempo na prisão, e que foi permitido o retorno de ao menos três deles ao ministério.



De acordo com a Conferência Episcopal, as denúncias desses casos estão sendo tratadas em suas respectivas dioceses, onde estão sendo realizados este ano procedimentos penais e administrativos, além de suspensões.

"Cada diocese é autônoma, compartilhamos informações (...), mas quando há um caso, é diretamente com o Vaticano e há um relatório para a Conferência Episcopal", explicou Moronta, que acrescentou que só a Santa Sé pode agir e decidir sobre o futuro do religioso acusado.

O jornal americano relatou casos nos estados venezuelanos de Zulia, Falcón, Anzoátegui, Mérida e Lara, onde um padre condenado a sete anos por abusar sexualmente de um menino de seis anos não finalizou sua pena e voltou à igreja.

"Ele foi suspenso ao longo deste ano e, em todo caso, há um processo judicial contra ele", justificou Moronta.

A Igreja Católica foi abalada por centenas de acusações e revelações de abusos sexuais cometidos por sacerdotes em todo o mundo, com um alto impacto na América Latina.

A Conferência Episcopal da Venezuela disse que está trabalhando em uma "comissão de prevenção", com oficinas e cursos, e que impôs medidas como proibir que crianças vivam em casas paroquiais e convidar os pais para as catequeses de seus filhos.