Sentado diante de várias vítimas de sequestro e de seus familiares em um auditório em Bogotá, Rodrigo Londoño 'Timochenko' admitiu sua responsabilidade por esses atos, acompanhado por outros seis ex-integrantes do alto escalão das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) imputados pela Jurisdição Especial para a Paz (JEP), o órgão de justiça de transição nascido do acordo que pôs fim à guerrilha.
Em nome dos 13.000 combatentes que assinaram o acordo em 2016, o ex-guerrilheiro reconheceu a "responsabilidade individual e coletiva de um dos crimes mais abomináveis cometidos" pelas Farc.
Foram "fruto de uma política que desembocou em crimes de lesa-humanidade e crimes de guerra", disse o antigo líder das Farc no momento de seu desarmamento.
Os ex-líderes da guerrilha Pablo Catatumbo, Julián Gallo, Pastor Alape, Milton Toncel, Rodrigo Granda e Jaime Alberto Parra também participam das audiências, que serão realizadas até a próxima quinta-feira.
A JEP os imputou por mais de 21.000 sequestros e outros crimes, como a tortura, cometidos entre os anos de 1990 e 2016.
Políticos e militares que foram raptados para forçar trocas por rebeldes presos ouviram a confissão e fizeram objeções ao que consideram uma "dívida para contribuir com a verdade" por parte dos perpetradores.
Óscar Tulio Lizcano, sequestrado em 2000 quando era um congressista conservador, exigiu que seus "carcereiros" esclarecessem o paradeiro dos sequestrados desaparecidos.
"Que nos digam a verdade. Nós perdoamos, mas isso não quer dizer que abrimos mão da justiça, queremos a verdade", reivindicou o ex-parlamentar de 75 anos, que conseguiu escapar de seus captores em 2008.
"Esses crimes foram resultado de uma política adotada pelo secretariado [cúpula] das FARC-EP" e "cometidos de maneira direta por seus subordinados", afirmou a magistrada Julieta Lemaitre, que presidiu a sessão.
Segundo o acordo de paz, os ex-guerrilheiros devem oferecer reparação às vítimas e dizer a verdade para evitar a prisão.
O tribunal levará pelo menos três meses para impor sanções aos imputados. Se considerar que suas confissões são insuficientes, poderá condená-los a penas de até 20 anos de reclusão.
Em maio, cerca de 20 militares reformados, incluindo um general, reconheceram sua participação nos assassinatos de mais de 100 civis para fazê-los se passar por guerrilheiros caídos em combate na fronteira com a Venezuela.
O tribunal estima que pelo menos 6.400 pessoas foram vítimas dessa prática, conhecida como os 'falsos positivos', que, junto com os sequestros, martirizaram a Colômbia no conflito de mais de seis décadas.
BOGOTÁ