"Nos mobilizamos para que nossos filhos vivam melhor", disse à AFP María Dolores Ayala, da comunidade de Maca Grande.
Ela lamenta que os preços da cebola e batata produzidos por eles "estão no chão" e que o dinheiro que recebem mal basta para alimentar sua família.
Pelo menos um milhão dos 17,7 milhões de equatorianos são indígenas e seus protestos conseguiram afastar três presidentes entre 1997 e 2005.
O protesto que começou nesta segunda-feira não tem data para acabar e incluiu 10 das 24 províncias do país, segundo autoridades.
Em dezembro de 2021, a pobreza no Equador alcançava 27,7% da população, e a extrema pobreza cerca de 10,5%. As zonas rurais são as mais vulneráveis.
A dolarizada economia equatoriana ainda tenta se recuperar dos efeitos da pandemia e segue a tendência de alta dos preços ao redor do mundo.
Aumentos dos combustíveis decretados em outubro reforçaram o descontentamento dos indígenas, que pedem para baixar os preço do diesel e da gasolina.
Desde 2020, o preço do galão de diesel quase duplicou ao passar de 1 dólar a 1,90 e a gasolina subiu 46%, de 1,75 a 2,55 dólares.
- Bolsos afetados -
Em 2019, violentas manifestações lideradas por indígenas deixaram 11 mortos.
"Não vamos permitir que o país seja paralisado", advertiu nesta segunda-feira o presidente Guillermo Lasso, um ex-banqueiro de direita que está no poder há um ano.
A Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), a maior organização indígena do Equador que convocou o protesto, denuncia os altos preços de combustíveis, a falta de emprego e controle de preços dos produtos agrícolas, além de concessões para mineração em territórios nativos.
Os "programas de governo favorecem empresários (...) e afetam o bolso da maioria dos equatorianos, os camponeses e indígenas", disse à AFP Manuel Cocha, da comunidade de Poaló.
Também pedem a renegociação de dívidas dos camponeses com bancos e uma moratória de ao menos um ano para paga-las.
- Transtornos -
Antes do amanhecer, Oswaldo Pilataxi precisou descer do ônibus no qual viajava para visitar sua família na localidade de Salcedo. Resignado, começou a caminhar a procura de um veículo que o levasse a seu destino.
Apesar de o protesto atrapalhar a sua vida, ele se identificou com os manifestantes.
Isto "nos afeta porque o comércio e as atividades dos trabalhadores ficam paralisados, mas por outro lado (...) o custo de vida, os suprimentos de primeira necessidade subiram uma barbaridade, como a gasolina", comentou.
"O país está sofrendo e o governo deve tomar consciência, já estamos (há) mais de um ano com este governo e ainda não vimos nada de suas promessas", afirmou.