(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas SANTIAGO

Chilenos começam a conviver com uma inflação desconhecida


10/06/2022 19:13

Gerações de chilenos convivem pela primeira vez com a inflação elevada: enquanto as classes trabalhadoras fazem malabarismos para fazer o dinheiro render, os níveis de compras dos mais abastados resistem a diminuir.

A carestia está na boca do povo, mas são os mais pobres os que sofrem mais suas consequências.

Com a venda de saladas no mercado popular de La Vega, Ana pagou pela educação dos quatro filhos. Mas agora, seus clientes compram verduras e eles próprios as preparam para contornar os preços elevados.

"Durante a semana não vendo. Antes, vendia por quilo", mas hoje só com as vendas de sábado e domingo "podemos passar a semana", conta à AFP Ana, de 56 anos, quarenta e dois deles trabalhando em La Vega.

"Nunca vi nada parecido. Tem gente que anda pedindo verduras para levar para casa", acrescenta em seu box vazio, mas aonde vai diariamente alimentar seus gatos.

Em maio, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 1,2%, alcançando 11,5% de alta ao ano, a maior desde 1994, muito acima dos cerca de 3% que a inflação registrou na última década. Em 2022, a alta já acumulou 6,1%.

Segundo especialistas, a substituição de categorias mais caras, a escolha de "marcas próprias" e o preparo dos alimentos em casa são hábitos tradicionais de proteção dos consumidores diante do aumento dos preços.

Roxana, que vende ovos, confirma a teoria: hoje vende menos e menores.

"Quando as pessoas têm dinheiro, levam o maior; agora, levam o menor porque estão tentando encontrar o mais barato e que o orçamento dê", diz à AFP.

- Liquidez acumulada -

Mas, apesar das queixas, o consumo resiste a cair no Chile.

A remanescência da forte injeção de liquidez na economia chilena até o ano passado explica em parte o fenômeno da inflação e também do consumo.

Resultado dos três saques dos fundos de pensão e das ajudas estatais pagas às famílias para enfrentar a pandemia, foram injetados na economia 90 bilhões de dólares, quase um terço do PIB do país.

"A economia tem liquidez acumulada há vários meses (...) É impossível que (o nível geral de compras) diminua com as quantias injetadas na economia", explicou à AFP Francisco Castañeda, diretor da escola de negócios da Universidade Mayor.

Em abril, o Índice de Atividade do Comércio aumentou 12,6% interanual, sustentado pelas vendas de vestuário e calçados, o que se reflete na grande afluência do público aos centros comerciais.

Para George Lever, gerente de estudos da Câmara de Comércio de Santiago, a concorrência aos centros comerciais está vinculada a um "alívio" após as restrições da pandemia.

No entanto, este efeito vai se "ajustando com o tempo":

"O excepcional para o futuro em termos de consumo é um período de contração em relação ao que vimos há 12 meses", acrescentou o especialista.

- Aprender a viver com a inflação -

A inflação começou a diminuir no Chile após o retorno da democracia, em 1990. Em meados do ano passado, voltou a subir de forma consistente.

Para o terceiro trimestre, a taxa chegaria a 13% anual, segundo o Banco Central.

"A inflação tem um componente externo, um componente interno e também um componente que o Banco Central chama de 'idiossincrático', que tem a ver com a atual discussão constituinte", que joga com a incerteza, devido ao processo para mudar a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), acrescentou Castañeda.

Para conter as altas, o governo do esquerdista Gabriel Boric se opôs a um novo saque de fundos de pensões, congelou os preços da energia elétrica e dos transportes, e alimenta um fundo de estabilização dos preços da gasolina e do querosene.

O Banco Central, por sua vez, elevou a taxa de juros a 9%.

Desta forma, os chilenos estão aprendendo a lidar com a inflação, cujo valor era um dos grandes feitos do modelo econômico do país.

"As jovens gerações não foram educadas pela vida para se comportar em ambientes de inflação alta (...) Temos essa desvantagem na conjuntura em relação a países estruturalmente inflacionários", acrescentou Lever.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)