O líder Kim Jong Un, usando uma máscara em público pela primeira vez de acordo com imagens da televisão estatal, ordenou medidas de "confinamento" em todo o país. Ele supervisionou uma reunião de emergência de seu escritório político e anunciou um sistema de controle do vírus de "emergência máxima".
Poucas horas após este anúncio, o Exército sul-coreano informou que a Coreia do Norte disparou três mísseis balísticos de curto alcance da área de Sunan, em Pyongyang. Este seria o 16º teste de armas do país desde janeiro e ocorre logo após Washington alertar sobre o risco de um teste nuclear iminente por Pyongyang.
Ao disparar um míssil logo após relatar seus primeiros casos de covid, Pyongyang quer mostrar que "a luta contra o coronavírus e seu objetivo de defesa nacional são duas coisas diferentes", disse Yang Moo-jin, professor da Universidade de Estudos Norte-coreanos.
Até agora, a empobrecida nação - mas com armamento nuclear - não havia admitido nenhum caso de coronavírus. O país decretou no início de 2020 um bloqueio severo com o exterior, que derrubou sua economia e comércio.
A agência oficial de notícias KCNA informou que as amostras coletadas de vários pacientes doentes com febre em Pyongyang no domingo eram "consistentes" com a altamente contagiosa variante ômicron do coronavírus.
Kim "ordenou a todas as cidades e municípios do país que adotem o confinamento cuidadoso em suas áreas", afirmou a KCNA. Fábricas, estabelecimentos comerciais e residências devem permanecer fechados e reorganizados para "bloquear de maneira impecável a propagação do vírus maligno", insistiu a agência estatal.
Kim "garantiu que, devido ao alto nível de conscientização política da população, (...) superaremos com toda segurança a emergência e teremos êxito com o plano de quarentena de emergência", acrescentou.
O comunicado pouco transparente não revela quantos casos foram detectados no país.
"Para que Pyongyang admita publicamente casos de ômicron, a situação de saúde pública deve ser grave", disse o professor Leif-Eric Easley da Universidade Ewha de Seul.
"Pyongyang provavelmente vai insistir com os confinamentos, apesar do fracasso da estratégia covid zero da China sugerir que esta abordagem não funciona com a variante ômicron", acrescentou.
- Sem vacinas? -
Analistas acreditam que a Coreia do Norte não vacinou nenhum de seus 25 milhões de habitantes depois de rejeitar as ofertas de doses da Organização Mundial da Saúde (OMS), da China e da Rússia.
Também consideram que o deficiente sistema de saúde do país isolado enfrentaria muitas dificuldades para enfrentar um grande surto de covid-19.
A Coreia do Norte fica próxima de países que enfrentaram ou ainda enfrentam surtos da variante ômicron, como Coreia do Sul e China, onde várias cidades estão em confinamento severo há várias semanas.
A publicação NK News, especializada em temas norte-coreanos e que tem sede em Seul, afirmou que algumas áreas de Pyonyang estão em confinamento há dois dias.
"Várias fontes ouviram relatos de compras de pânico devido à incerteza de quando o confinamento terminará", destacou a publicação.
Ao que tudo indica, a Coreia do Norte tentará evitar as medidas extremas da China, como "encarcerar virtualmente seus habitantes em apartamentos", disse Cheong Seong-chang, do Instituto Sejong.
"Porém, mesmo os confinamentos mais limitados provocarão uma grave escassez de comida e o mesmo caos que a China enfrenta", afirmou.
Durante toda a pandemia, a Coreia do Norte expressou orgulho por sua declarada capacidade de manter o vírus fora de suas fronteiras. Em um desfile militar em 2020, Kim agradeceu aos cidadãos e aos militares por seus esforços.
Desde o início da pandemia, o país não havia confirmado nenhum caso ou morte por covid-19.
Embora a imprensa estatal tenha anunciado medidas de "prevenção da epidemia", em um grande desfile militar no mês passado na capital nenhum dos milhares de participantes usava máscara.
SEUL