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Estado de Minas BUENOS AIRES

Argentina e sua obsessão pelas Malvinas 40 anos após a guerra


30/03/2022 10:54

Tatuadas na pele, pintadas nos muros de Buenos Aires: as Ilhas Malvinas (Falklands) ainda são onipresentes na Argentina, 40 anos depois da tentativa fracassada de recuperar sua soberania, reivindicada desde os livros escolares até a própria Constituição.

A reivindicação permanece desde a guerra de 1982, com o apoio majoritário da população argentina, que exibe por toda parte a silhueta dos territórios insulares do Atlântico Sul.

Tal reivindicação sobre as Malvinas, Geórgia do Sul e espaços marítimos e insulares está inscrita na Constituição e presente na sociedade e na cultura popular.

"A recuperação desses territórios e o pleno exercício da soberania, respeitando o modo de vida de seus habitantes e de acordo com os princípios do direito internacional, constituem um objetivo permanente e inalienável do povo argentino", estabelece a Constituição.

Cada governo argentino aplicou esta política de Estado com variações, embora nenhum tenha conseguido abrir uma negociação pela soberania.

- Malvinas "para sempre" -

"A Argentina é um país complexo com muitas rachaduras, são poucas as questões que reúnem o coletivo, Malvinas é uma delas", diz Edgardo Esteban, ex-combatente e diretor do Museu das Malvinas.

A reclamação está presente em escolas, museus, cédulas ou placas que indicam a distância até o arquipélago em qualquer ponto do país.

"Quem nos fala aqui de renúncia, de solo é mais pátria na extensão!", diz um dos versos do hino às Malvinas que é cantado nos atos escolares.

"Malvinas vivem para sempre" anuncia um cartaz no monumento de Buenos Aires onde uma réplica do cemitério militar de Darwin nas ilhas lembra os 649 argentinos mortos na guerra perdida após 74 dias de batalha.

"A guerra foi uma loucura dos milicos, se não a tivessem feito, os ingleses já as teriam devolvido", acredita Hugo Moussito, de 59 anos, ao lavar o carro que traz a imagem das ilhas na placa com a legenda "Foram, são e serão argentinas".

Segundo uma pesquisa, mais de 80% dos argentinos apoiam a reivindicação de soberania por via diplomática e 10% consideram necessário desistir. Para os demais a questão é indiferente.

- História, economia e estratégia -

Para o historiador Felipe Pigna, as razões argentinas para persistir "são evidentes: só de olhar para a geografia, história, natureza, é território argentino usurpado".

Esteban considera que a reclamação também tem motivos econômicos e estratégicos.

"A Inglaterra controla o mar ali e se alimenta da pesca, dos recursos naturais da Argentina, por isso mantemos nossa reivindicação, há royalties acumulados de pesca de mais de 180 bilhões de dólares", calcula.

As ilhas também representam uma ligação interoceânica e para a Antártica.

"A Argentina foi o primeiro país a ter uma base científica na Antártica" em 1904, lembra Esteban, destacando uma política ativa que resultou em 13 bases, seis delas permanentes.

Neste contexto, as ilhas têm também um valor estratégico para o Reino Unido. "As Malvinas são o único lugar onde eles têm controle sobre a passagem do Atlântico para o Pacífico. Se algo acontecer com o Canal do Panamá, será a passagem obrigatória dos navios", diz.

"O Reino Unido já está pensando no que vai fazer com a Antártica e suas riquezas, fundamentalmente com a maior reserva de água potável do planeta", aponta.

Por isso, para a Argentina "Malvinas é um passado, tem uma imensa história de pertencimento e reivindicação, mas também é um futuro ao qual não vamos renunciar", afirma Esteban.

"Desde a guerra existe um canal multilateral inalterável para as Nações Unidas e a OEA e outro para o Reino Unido com continuidades, rupturas e alguns passos em falso", explica à AFP o cientista político Agustín Romero, autor do livro "La Cuestión Malvinas: una hoja de ruta" sobre as ações políticas argentinas desde 1982.

O governo de Carlos Menem (1989-1999) retomou as relações diplomáticas e promoveu o 'guarda-chuva da soberania' idealizado por seu antecessor Raúl Alfonsín (1983-1989) para abrir laços de cooperação protegendo a questão da soberania, com o objetivo de gerar um clima de confiança que favorece uma negociação definitiva.

"Algo que nunca foi alcançado devido à recusa do Reino Unido em negociar, apesar dos apelos da comunidade internacional para retomar o diálogo", destaca Romero.

Os governos de Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015) "foram muito duros na reivindicação bilateral e mesmo assim a relação comercial foi a melhor dos últimos 30 anos; porém, com Mauricio Macri (2015-2019), embora a reclamação tenha diminuído notavelmente em intensidade, o vínculo comercial se deteriorou", indicou.


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