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Estado de Minas WASHINGTON

Mudança de regime, a polêmica estratégia que os EUA não querem mais


29/03/2022 11:38

Os Estados Unidos asseguram que não buscam uma "mudança de regime" na Rússia. O esclarecimento apressado mostra que a estratégia outrora popular entre os neoconservadores se tornou um tema sensível após as experiências negativas de Iraque, Afeganistão e Líbia.

O presidente Joe Biden causou alvoroço durante um discurso apaixonado em Varsóvia no sábado, quando disse que seu colega russo, Vladimir Putin, "não pode permanecer no poder".

A Casa Branca foi rápida em atenuar a frase, que não fazia parte do discurso escrito de Biden, insistindo em que, com essas palavras, o presidente não estava sugerindo uma mudança de regime em Moscou.

Ontem, Biden se recusou a retirar o comentário na segunda-feira, dizendo que estava apenas expressando "indignação moral", e não delineando uma política para derrubar Putin.

Até mesmo insinuar tal prática parece tabu em Washington.

"A mudança de regime pode parecer atraente, porque remove a pessoa associada a políticas de que não gostamos", disse à AFP Sarah Kreps, professora da Universidade de Cornell. "Mas isso quase sempre leva à instabilidade", completou.

- "Não funcionaram" -

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, fez da rejeição da "mudança de regime" um eixo central de seu trabalho diplomático, prometendo, já em março de 2021, não "promover a democracia com dispendiosas intervenções militares, ou tentando derrubar regimes autoritários pela força".

"Já tentamos essas práticas no passado. Embora bem intencionadas, elas não funcionaram", disse Blinken.

A história da política externa dos EUA está repleta de tentativas clandestinas e públicas - e mais ou menos bem-sucedidas - de resolver uma crise substituindo os líderes de um país rival.

Isso ocorreu pela primeira vez na América Latina, onde a Agência Central de Inteligência americana (CIA, na sigla em inglês) desempenhou um papel importante, durante a Guerra Fria, em golpes militares que buscavam derrubar presidentes de esquerda.

A estratégia de mudança de regime não desapareceu com a queda da Cortina de Ferro. Única superpotência global segura de ser intocável e de não ter rivais à altura, os Estados Unidos começaram a afirmar seu poder mais abertamente na virada do século XXI.

Já em 1998, uma proposta do Congresso sancionada pelo presidente democrata Bill Clinton afirmava que "deveria ser a política dos Estados Unidos apoiar os esforços para remover o regime liderado por Saddam Hussein do poder no Iraque".

Quando o presidente republicano George W. Bush entrou na Casa Branca em 2001, ele se cercou de figuras neoconservadoras - algumas apelidadas de falcões de guerra - que teorizaram um retorno às intervenções dos EUA como forma de promover o modelo democrático.

Os ataques do 11 de Setembro aceleraram a mudança: a "Guerra ao Terror" rapidamente derrubou o regime talibã no Afeganistão. Logo depois, Washington colocou em prática suas palavras sobre Saddam Hussein durante a guerra do Iraque em 2003. Ele foi deposto, após ser falsamente acusado de esconder armas de destruição em massa.

- "Catastrófico" -

Na Líbia, oficialmente, a intervenção de Washington e de seus aliados europeus em 2011 foi para proteger os rebeldes que pegaram em armas contra Muammar Khaddafi durante a chamada revolta da Primavera Árabe. A missão se estendeu, contudo, até a morte do ditador líbio.

Se, por um lado, no Afeganistão, no Iraque e na Líbia, o objetivo principal de derrubar o regime pareça ter sido rapidamente alcançado, por outro, o objetivo de "construir a nação", ou a necessária reconstrução de um país estável - e aliado do Ocidente - para suceder ao poder deposto, acabou fracassando.

O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) se aproveitou da instabilidade do Iraque em meados da década de 2010. E 20 anos de uma dispendiosa presença militar no Afeganistão terminaram em fiasco quando os Estados Unidos se retiraram em agosto passado, vendo os talibãs voltarem ao poder.

Enquanto isso, a Líbia continua sendo incapaz de emergir de uma década de caos.

Quase unanimemente alinhados com uma opinião pública cansada de "guerras sem fim" sendo travadas do outro lado do mundo, políticos americanos estão agora promovendo uma política externa menos intervencionista.

Sem a opção militar, os Estados Unidos não têm, porém, necessariamente, os meios para alcançar suas ambições.

Sob a presidência do republicano Donald Trump, Washington quis forçar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, a deixar o poder por meio de uma campanha de sanções internacionais. O plano fracassou.

Desde o início da guerra na Ucrânia, Biden traçou uma linha vermelha: nunca entrar em confronto direto com a Rússia, para evitar uma "Terceira Guerra Mundial".

Para Kreps, "até os legisladores mais reticentes parecem ter aprendido com os resultados de sua política internacional nas últimas décadas".

"A instabilidade na Líbia, no Iraque e no Afeganistão foi muito ruim, mas a instabilidade em um país com milhares de armas nucleares seria catastrófica", conclui.


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