Jornal Estado de Minas

RIO DE JANEIRO

Contrariando Bolsonaro, Petrobras anuncia forte alta no combustível

A gigante brasileira do petróleo Petrobras anunciou aumentos expressivos na gasolina e no diesel nesta quinta-feira (10) em resposta à crise na Ucrânia, ignorando as críticas do presidente Jair Bolsonaro ao que ele vê como preços excessivos.



Horas depois, o Senado aprovou um projeto para controlar os preços dos combustíveis com um "fundo de estabilização", assim como um plano de ajuda para os menos favorecidos.

A Petrobras informou em um comunicado que aumentará o preço da gasolina em suas refinarias em 18,8% e do diesel em 24,9% a partir de sexta-feira devido ao "aumento global dos preços do petróleo e seus derivados como resultado da guerra entre Rússia e Ucrânia".

A empresa destacou que a medida está em linha com os aumentos de outros fornecedores de combustíveis e enfatizou que não eleva os preços há quase dois meses, apesar dos aumentos registrados no mercado internacional nas últimas semanas.

Após o anúncio, as ações da petroleira subiram 3,5% na bolsa de São Paulo, enquanto em cidades como Brasília e São Paulo, muitos motoristas faziam fila nos postos de gasolina para abastecer antes de o aumento se refletir nas bombas.

Bolsonaro tem defendido conter o aumento dos combustíveis e seu governo tenta controlar a inflação, dois fatores muito prejudiciais para sua popularidade antes das eleições de outubro, nas quais disputará um segundo mandato.

"O mundo todo está sofrendo com a questão da guerra de Ucrânia e Rússia e dos preços dos combustíveis. O Brasil é um dos países que têm o combustível mais barato do mundo. Continua caro, sabemos disso perfeitamente e queremos buscar solução", disse Bolsonaro nesta quinta em sua live semanal pelo Facebook.



O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que "se houver uma escalada" do conflito, "aí sim" o governo estudará a aplicação de subsídios diretos.

Além disso, destacou que as iniciativas aprovadas no Senado, como uma forma de "atenuar bastante" os aumentos aos consumidores, aos quais chegará um terço das altas anunciadas, estimou.

Líderes caminhoneiros rejeitaram o aumento nas redes sociais nesta quinta-feita e estavam divididos sobre recorrer à justiça para conter o aumento ou convocar uma greve.

Wanderlei Alves, um dos principais líderes da greve dos caminhoneiros de 2018, que durante dez dias causou sérios problemas de abastecimento, disse à imprensa que "os caminhoneiros autônomos e empresários de transporte têm que se unir e parar o país" porque "ninguém vai aguentar" a alta de preços.

- Queda de braço com Bolsonaro -

Bolsonaro critica rotineiramente a Petrobras por sua política de preços. Na segunda-feira, ele disse que a paridade da empresa com os preços internacionais "não pode continuar".

Após essa declaração, as ações da empresa caíram mais de 7% pelo nervosismo dos investidores, uma consequência semelhante ao que aconteceu há um ano.



Na ocasião, as ações perderam mais de 20% depois que Bolsonaro mudou o presidente-executivo da Petrobras e disse que a empresa não deveria estar constantemente "surpreendendo as pessoas" com aumentos de preços.

Bolsonaro está pressionando para que o Congresso aprove uma legislação para reduzir os preços dos combustíveis, embora especialistas digam que o impacto a curto prazo seria mínimo.

O Senado aprovou nesta quinta-feira, por 61 votos a 8, a criação de um fundo de "estabilização de preços", financiado em parte por dividendos da companhia, pagos ao Estado, a fim de diminuir a volatilidade nos prelos dos combustíveis.

Além disso, introduz um "auxílio gasolina" de até 300 reais mensais para motoristas autônomos de baixa renda. O projeto agora segue para apreciação na Câmara dos Deputados.

Os parlamentares também aprovaram nesta quinta-feira uma segunda iniciativa que reduz a cobrança de impostos sobre o diesel - principal combustível usado pelos caminhoneiros -, gás de cozinha e querosene.

Ambas as medidas são consideradas prejudiciais à economia por alguns especialistas, dada a delicada situação fiscal do país.



A consultoria Eurasia Group destacou o "elevado custo fiscal" que a implementação do subsídio teria.

"Em 2018, custou 9,5 bilhões de reais - 1,9 bilhão de dólares - reduzir os preços do diesel, sem incluir a gasolina, em apenas 0,30 real - 6 centavos de dólar. Uma proposta similar em um contexto de preços internacionais altíssimos devido à guerra na Ucrânia poderia custar muitas vezes mais, ampliando o déficit orçamentário", destacou a consultoria.

A alta inflação no Brasil, que acumulou 10,38% nos 12 meses até janeiro, é um ponto fraco para Bolsonaro (PL), que espera uma dura batalha pela reeleição em outubro, provavelmente contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), grande favorito nas pesquisas.

O mercado internacional de petróleo tem visto uma grande oscilação desde que a Rússia invadiu a Ucrânia há duas semanas.

O petróleo Brent atingiu US$ 139 o barril na segunda-feira, a maior alta em 14 anos, antes de cair abaixo dos US$ 110 nesta quinta.

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