Jornal Estado de Minas

CRISE MUNDIAL

Ucrânia: medidas econômicas de Bolsonaro podem ser prejudicadas por guerra

A fim de evitar que a invasão da Ucrânia pela Rússia cause desgastes que se reflitam na campanha de reeleição, Jair Bolsonaro (PL) voltou seus esforços para medidas de cunho popular que desviem a atenção do eleitorado de problemas econômicos causados pelo conflito no Leste Europeu.



Já é certa, por exemplo, a liberação do saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) de até R$ 1 mil por trabalhador com saldo disponível na conta, além de um pacote de crédito de R$ 100 bilhões para micro e pequenos empresários. O presidente também tem especial interesse nas votações relacionadas aos combustíveis no Congresso, que devem se intensificar esta semana. As bondades devem chegar a R$ 150 bilhões e começam a ser divulgadas amanhã, Dia Internacional da Mulher.

Todo esse aceno ao eleitor, porém, tem custos — e são altos. Isso porque, entre especialistas, aumenta o receio de um desequilíbrio fiscal, que, no médio prazo, engoliria o pacote de benesses. A inflação, em rota de subida, ainda pioraria o cenário, pois refletiriam a fatura da guerra. Não apenas a importação de fertilizantes — fundamentais para o agronegócio — e o aumento do barril de petróleo no mercado internacional impactariam a carestia, mas também a redução na oferta de grãos, como trigo, pela Rússia e pela Ucrânia empurra os preços para cima. Já há a expectativa de que aves e suínos ficarão mais caros nas gôndolas exatamente por causa do fechamento do mercado dos dois países em guerra.

 

O primeiro vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Rubens Bueno (Cidadania-PR), classifica o governo como "desastrado e incompetente". "Basta ver a economia se arrastando, desemprego, pobreza e miséria aumentando em nosso país. Populismo é a marca de um governo completamente despreparado para enfrentar momentos durante quatro anos e agora bate o desespero", critica.





Para José Luís Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), os efeitos econômicos virão independentemente da posição de Bolsonaro em relação ao presidente russo, Vladimir Putin. Ele cita o aumento do preço internacional do petróleo, do gás, do milho, do trigo e da soja como consequências internas do conflito no Leste Europeu.

"Temos uma desvalorização das moedas dos países emergentes, em particular do Brasil ante o dólar, representando aceleração da pressão inflacionária, contrariando as expectativas iniciais do Banco Central de que a inflação começaria a ceder a partir de abril. Nenhuma das medidas que Bolsonaro adotar terá qualquer impacto sobre a cotação internacional das commodities", diz.