Minado pelas divisões entre instituições rivais no leste e no oeste, o país está desde 10 de fevereiro com dois primeiros-ministros que disputam o cargo em Trípoli, após o fracasso na tentativa de se organizar as eleições cruciais de dezembro.
O Parlamento, com sede na região leste, nomeou o influente ex-ministro do Interior Fathi Bashagha para substituir Abdelhamid Dbeibah à frente do governo interino. Este último afirma, no entanto, que cederá o poder somente para alguém eleito pelas urnas.
O confronto gera o temor de uma retomada do conflito armado.
Ainda assim, por ocasião do aniversário da revolta que fez parte da chamada "Primavera Árabe", as principais avenidas de Trípoli foram decoradas em vermelho, preto e verde, as cores da bandeira adotada após a queda de Kadhafi.
Concertos, apresentações de cantos revolucionários e shows de fogos de artifício também foram programados para sexta-feira.
Nesta quinta-feira, Dbeibah participou em uma cerimônia de entrega de diplomas para cadetes do exército em uma base militar na região de Trípoli. "Não esqueceremos os mártires da revolução de fevereiro, que sacrificaram suas vidas pela construção de um Estado democrático", afirmou o comandante do Estado-Maior, Mohamed al-Haddad, em um discurso.
A Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (MANUL) reiterou o apelo por "manutenção da estabilidade e da calma no país".
- Transição interminável -
A queda de Kadhafi provocou uma transição política interminável, dizimada pelas rivalidades, pelas interferências do exterior e por insegurança crônica que afeta seus sete milhões de habitantes, empobrecidos apesar das reservas abundantes de petróleo do país.
"A situação piorou", afirma Ihad Doghman, de 26 anos. Como acontece com vários de seus compatriotas, ele tem dois empregos: funcionário público durante o dia, e gerente de uma mercearia, à noite.
"É a única maneira de seguir adiante", completa o jovem morador de Trípoli.
Na política, a Líbia teve nove governos desde a revolta, passou por duas guerras civis e, até hoje, não conseguiu organizar uma eleição presidencial.
Uma esperança de pacificação surgiu no fim de 2020, com o fracasso da tentativa do marechal Khalifa Haftar, homem forte do leste, de conquistar Trípoli, assim como da assinatura de se adotar um cessar-fogo seguido pelo início de um processo de paz mediado pela ONU.
Neste cenário, Dbeibah foi nomeado para o mandato de um ano como primeiro-ministro interino de um governo de transição, com a missão de unificar as instituições e de liderar o país até as eleições legislativas e presidenciais de dezembro de 2021.
As divisões persistentes provocaram, no entanto, o adiamento destas eleições por tempo indeterminado. Nelas, a comunidade internacional depositava grandes esperanças de se estabilizar este país, por onde passa uma parte importante da imigração clandestina rumo à Europa.
Apesar do fracasso, "há um amplo leque de questões, nas quais a Líbia avança", analisa Khalel Harchaoui, pesquisador especializado neste país do norte da África.
"A Líbia não registra nenhum grande confronto bélico desde junho de 2020. Entre as elites, inimigos mortais de dois anos atrás conversam entre si, inclusive com alianças em alguns casos. Isto representa o início de uma reconciliação", afirma.
Neste caso, não se trata tanto de um confronto Leste-Oeste, já que os dois primeiros-ministros rivais procedem do oeste.
Nomeado pelo Parlamento e com apoio do marechal Haftar, Bashagha tem até 24 de fevereiro para formar o governo e apresentá-lo aos deputados. Resta saber se Dbeibah aceitará ceder o poder.