"Antes te mandavam (dólares) para a Western Union, você ia para a fila, pegava e pronto", diz Yamile Blen, de 52 anos, na Velha Havana.
"Depois da pandemia íamos reabrir(a cafeteria), mas com tudo sob o MLC (Freely Convertible Currency - equivalente ao dólar), não conseguimos", acrescenta.
Ela explica que café e outros produtos para abastecer seu negócio só são vendidos em lojas do Estado, onde pagaria com cartões carregados de moeda estrangeira.
Para obter a moeda estrangeira, a maioria recorre ao mercado clandestino, onde o dólar é negociado a cerca de 100 pesos cubanos, quatro vezes mais que o câmbio oficial.
Agora a esperança dos Blens está no anúncio do governo do democrata Joe Biden de avaliar a possibilidade de "pagamentos digitais" para facilitar a transferência de dinheiro dos Estados Unidos para Cuba. Ao mesmo tempo, o Banco Central da ilha comunista acaba de criar a empresa Orbit para processar essas transferências internacionais.
No final de 2020, as coisas se complicaram para Yamile e seu marido, quando o governo do republicano Donald Trump sancionou a cubana Fincimex, associada à Western Union, e a impediu que os militares da ilha se beneficiassem do envio de remessas.
A Fincimex administrava as transferências do exterior e era controlada pelo Grupo de Administración Empresarial S.A. (GAESA), o conglomerado mais poderoso de Cuba, dirigido pelas Forças Armadas Revolucionárias.
Consequentemente, a Western Union teve que fechar os 407 escritórios que tinha em território cubano.
Especialistas estimam que, entre 2005 e 2020, as remessas representaram 6% do PIB de Cuba e que mais de dois terços da população cubana dependia de remessas do exterior para sobreviver, especialmente dos Estados Unidos, onde vivem mais de dois milhões de cubanos.
- Alívio para "o cidadão comum" -
De acordo com o economista cubano Carmelo Mesa-Lago, da Universidade de Pittsburgh, a recente criação da Orbit responde à exigência dos EUA de "mudar a administração militar da Fincimex para uma agência civil".
As remessas constituíram a segunda fonte de divisas para Cuba em 2019, depois da exportação de serviços médicos e à frente do turismo.
Citando números da consultoria Havana Consulting Group, com sede em Miami, o economista disse que em 2021 as receitas cambiais atingiram apenas 1,08 bilhões de dólares, "uma queda muito notável" de quase 71% em comparação com 3,7 bilhões em 2019, quando atingiram seu recorde.
As sanções americanas, mais do que punir o governo e os militares, atingiram as famílias cubanas.
O Estado "encontrou formas de reorganizar as alianças internacionais, administrar o orçamento fiscal e regular a economia para minimizar o impacto das sanções sobre suas empresas e projetos prioritários", afirma o economista cubano Pavel Vidal, da Pontifícia Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia.
Restabelecer um mecanismo de envio de dinheiro a Cuba seria "um alívio para a situação precária em que se encontram os cubanos comuns e um apoio às pequenas e médias empresas privadas", acrescenta.
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