Jornal Estado de Minas

HOUSTON

Abalada pelos sismos causados pelo fracking, Texas é obrigado a agir

"Você se acostuma. As paredes tremem", diz Sam, morador de Midland, uma cidade do oeste do estado do Texas, onde o fraturamento hidráulico para extrair petróleo e gás, uma técnica conhecida como "fracking", causa cada vez mais terremotos.



"Um segundo depois tem outro tremor, como se um caminhão passasse perto", disse este homem de 44 anos, que não quis revelar seu sobrenome.

Três terremotos sacudiram o solo em 4 de fevereiro.

Esta região da Bacia do Permiano, de onde são extraídos 40% do petróleo americano, e 15% do gás, registrou em 2019 nove movimentos telúricos de magnitude superior a três; 51, em 2020; e 176, em 2021, segundo a empresa de Inteligência Sourcenergy market.

O que provoca os terremotos não é propriamente o "fracking", mas a injeção de águas residuais nos poços. A Comissão de Ferrovias do Texas, que regula as atividades petrolíferas, teve de impor novas regras sobre o descarte de água.

- "Raposa cuidando do galinheiro" -

As empresas de perfuração devem lidar com enormes quantidades de água que surgem durante o "fracking" e que constituem cerca de 80% dos fluidos extraídos do solo.

Quase 4.000 poços foram perfurados especificamente para coletar águas residuais na Bacia do Permiano.

"À medida que se bombeia mais e mais água para o solo (...) esses espaços são preenchidos", disse Joshua Adler, CEO da Sourcenergy, que ajuda as empresas petrolíferas a melhorar a gestão da água.



"Em alguns desses espaços, há rachaduras, ou falhas geológicas. Você pressiona com mais e mais força e talvez atinja essa falha, o que pode provocar um deslizamento e isso é um terremoto", completou.

Desde 2012, a produção diária de petróleo se multiplicou por cinco na Bacia do Permiano. Também aumentaram as injeções de água nos poços.

"Em Oklahoma, eles basicamente levaram anos e negaram que houvesse algum problema", quando os sismos aumentaram na década de 2010, relatou Adler.

No Texas, porém, assim que os movimentos sísmicos começaram a aumentar, a Comissão Ferroviária se pôs a estudar o tema e "não esperava que se tornasse um problema gigante", acrescentou.

Entre setembro e janeiro, estabeleceu três áreas geográficas em risco.

Em Gardendale, a mais populosa, onde estão localizadas as cidades de Midland e Odessa, ordenou-se, em meados de dezembro, suspender as injeções de águas profundas em sete poços.



Depois de outros quatro terremotos com magnitudes entre 3,1 e 3,7, ele estendeu a medida para outros 26 poços.

O órgão regulador aguarda propostas da indústria nas outras duas áreas identificadas: Stanton e Northern Culberson-Reeves. Neta Rhyne, de 72 anos, que mora perto de Northern Culberson-Reeves, acha que "é como pedir à raposa para cuidar do galinheiro".

- 'Cheira a dinheiro' -

Na semana passada, Rhyne voltou a pedir uma audiência à Comissão Ferroviária, como vem fazendo desde 2016, diante de novas solicitações para perfurar poços de descarte de água em sua região, pois teme que um sismo acabe afetando uma das maiores piscinas naturais do mundo alimentado por nascentes, muito perto de sua casa no Parque Natural Balmorhea, Toyahvale.

O Departamento de Parques do Texas se recusou a responder às perguntas da AFP, mas a assessora de imprensa Stephanie Salinas Garcia reconheceu "a preocupação de que os terremotos possam afetar o sistema de ressurgência".

"Há pequenas comunidades aqui. As pessoas não querem causar problemas, não querem expressar suas preocupações", disse Rhyne, dona de uma loja de mergulho perto da piscina natural Balmorhea.

Uma suspensão da injeção de água implicaria elevados custos para as companhias de petróleo, que terão de transportar a água para fora do local, por meio de dutos, ou mesmo por caminhões-tanque.

Sam, o morador de Midland, diz que os abalos sísmicos geram reações mistas entre as pessoas.

"Os mais velhos reclamam um pouco dos terremotos, mas os jovens, nunca! Pelo menos 75% deles vivem do petróleo", afirmou.

"Mesmo quando há cheiro de sulfeto de hidrogênio emitido pelos poços, dizem que cheira a dinheiro", comentou.