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Estado de Minas BELÉM

Sair de Gaza e ir a Belém, um duplo presente de Natal para um cristão palestino


27/12/2021 19:37

Da última vez que colocou os pés fora de Gaza, Milad Ayyad tinha 10 anos. Duas décadas depois, este cristão palestino recebeu algo que nunca esperava, uma autorização para celebrar o Natal em Belém.

Ortodoxo como a maioria dos cristãos em Gaza, Milad Ayyad precisa de mais dedos do que tem nas mãos para contar suas tentativas de conseguir uma permissão de saída de Gaza, que está sob bloqueio de Israel há cerca de 15 anos.

Neste ano, 500 cristãos do território palestino receberam a tão esperada autorização para entrar na Cisjordânia ocupada, a outra porção de terra palestina que está separada de Gaza por solo israelense. Lá estão diversos lugares sagrados da fé cristã, como a basílica da Natividade em Belém, construída no local de nascimento de Jesus, segundo a tradição.

Quando Milad, cujo nome significa "nascimento" em árabe, soube que havia recebido o valioso documento de viagem - válido por um mês -, sentiu "uma alegria indescritível".

"As celebrações na cidade da paz, Belém, são especiais. Não se pode comparar com as de Gaza, que ocorrem entre as paredes da igreja, com apenas uma missa e uma pequena tropa de escoteiros", explica este estudante de história.

O número de cristãos em Gaza tem diminuído constantemente, especialmente desde que o movimento islâmico Hamas assumiu o poder em 2007. De acordo com as autoridades cristãs locais, há apenas cerca de mil vivendo lá hoje, contra mais de 7.000 em um passado não muito distante.

- O périplo -

A preparação da viagem de Milad foi um périplo por si só.

Para começar, as autoridades israelenses não indicaram quando seria expedido o documento, o que tornou a travessia incerta.

Depois, Milad teve que telefonar para um tio para garantir que ele poderia recebê-lo em sua casa em Beit Sahour, localidade vizinha a Belém, para ter um lugar para ficar. Mais tarde, foi preciso planejar o trajeto até a passagem fronteiriça de Erez, em Israel, e controlar sua ansiedade ao entrar no enorme edifício de segurança máxima.

Apesar de tudo isso, o maior desafio de todos foi convencer seu pai, Abu Rimon, de que não havia nada a temer em uma viagem solitária a Israel. "Meus filhos são o que mais amo", diz este senhor gravemente doente, que tem em sua mente a imagem de soldados israelenses atirando contra palestinos.

No quintal de sua casa em Gaza, foi preciso que um vizinho se juntasse aos esforços de Milad para convencer o patriarca de que, com uma permissão de Israel, não havia risco.

O domingo, dia da grande jornada, chegou. O palestino de fé cristã deixou Gaza. Ao entrar no veículo que o esperava na saída de Erez, teve dificuldades para colocar o cinto de segurança, que em Gaza não é mais que um enfeite.

Durante o trajeto, o jovem, que não se lembra de ter visto em vida um israelense, olhava as placas tentando decifrar a quais cidades israelenses elas se referiam, portas de entrada para um outro mundo.

Usando um casaco reforçado para enfrentar o "frio de Belém", Milad seguiu viagem admirando o verde da paisagem, lembrando-se que "não existem bosques como este em Gaza".

Milad não conseguiu chegar a tempo para as celebrações da véspera de Natal, 24 de dezembro. No entanto, nada poderia estragar sua alegria, sobretudo porque, como um ortodoxo, o nascimento de Jesus é comemorado em 7 de janeiro.

Além disso, domingo é dia de missa em Belém. Apenas na Praça da Manjedoura, havia mais cristãos do que em toda a Faixa de Gaza. Milad aproveitou para fazer uma 'selfie' diante da imensa Árvore de Natal, visitou a basílica da Natividade, acendeu uma vela e se recolheu na gruta onde teria nascido Jesus.

A permissão de saída trouxe um pouco de luz para sua vida em Gaza, um território que passa de crise em crise, sobretudo sete meses depois da guerra relâmpago entre Israel e Hamas, da qual "ainda choramos pelos mortos".


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