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Estado de Minas SANTIAGO

Nem Kast, nem Boric: um Chile preso entre dois 'extremos'


17/12/2021 19:12

Eles temem tanto o candidato da extrema direita José Antonio Kast quanto o esquerdista Gabriel Boric: com a eleição deste domingo se aproximando, boa parte dos eleitores chilenos se sente presa entre dois "extremos", um vazio que os empurra a votar em branco ou nulo.

"Ninguém me representa, porque eles são extremos e sinto que hoje para a realidade do país não é disso que precisamos", disse à AFP Johana Ugarte, corretora de seguros de 48 anos que decidiu votar nulo.

No primeiro turno, em 21 de novembro, em que Kast prevaleceu com 27,9% dos votos, contra 25,8% de Boric, Ugarte votou em "uma opção mais ao centro". Mas, agora, afirma se sentir "órfã" de candidatos.

Representante da coalizão Aprovo Dignidade, que reúne a Frente Ampla e Partido Comunista, o deputado Gabriel Boric promete uma mudança no modelo econômico, que parte da sociedade responsabiliza pelas profundas desigualdades no país.

Aos 35 anos, idade mínima para se candidatar à presidência, o candidato de esquerda defende um Estado mais forte e direitos sociais garantidos após décadas de liberalismo ortodoxo.

Para isso, Boric propõe uma reforma tributária que inclui o aumento de impostos para os mais ricos e o fim da previdência privada, entre outras transformações.

Kast, um conservador que se opõe ao aborto e ao casamento igualitário, quer manter o sistema. Seu plano é restaurar a "paz e a ordem" que, segundo ele, o Chile perdeu depois dos protestos que eclodiram em outubro de 2019, para que o país volte a crescer e, assim, seja capaz de implementar programas sociais.

Boric é acusado de ser um "comunista", enquanto Kast é rotulado de "fascista", uma dialética que polarizou uma campanha manchada por trocas de acusações.

"Kast me assusta com sua política de 'bater na mesa' para tentar resolver a violência com mais violência, enquanto eu sinto que Boric é um jovem e que lhe falta maturidade política, e que vai acabar sendo um simples porta-voz e não um governante", acrescenta Ugarte, que mora em Peñalolén, uma comuna no sudeste de Santiago onde dificilmente se misturam os setores mais ricos e os mais pobres.

Uma pesquisa mais recente da consultoria brasileira AtlasIntel, realizada entre 14 e 16 de dezembro com 2.218 pessoas, revelou empate técnico nas intenções de voto, com 48,4% para Boric e 48,5% para Kast, e margem de erro de 2%.

- "Sem candidato" -

Como Ugarte, várias personalidades declararam publicamente seu voto nulo.

Um dos últimos a reconhecer essa opção foi José De Gregorio, ex-ministro do governo do socialista Ricardo Lagos e ex-presidente do Banco Central.

"Vou anular meu voto. Apesar da pressão que tenho de todos os lados, acho que é a coisa mais honesta", disse De Gregorio à mídia local.

"Ambos têm potencial, mas a verdade é que não gosto de nenhum deles", acrescentou.

Ernesto Ottone, sociólogo e ex-conselheiro presidencial de Lagos (2000-2006), não vai votar. Ele viajou para Paris, mas não antes de se declarar "sem candidato".

"Sou uma pessoa de esquerda democrática, o que se poderia chamar de social-democrata, portanto, reformista, me sinto muito representado quando há uma aliança de centro-esquerda e essa situação não existe", explicou à AFP.

Kast "é um homem de extrema direita. Boric representa uma esquerda radical e populista", completou Ottone, que se mostra especialmente preocupado com a aliança com o Partido Comunista, que no Chile "continua a ter uma doutrina que não é democrática".

Boric tem "simplesmente um programa de governo, um projeto de governabilidade que não me parece fortalecer a democracia", acrescentou.

- Metade que não participa -

Ambos os candidatos moderaram seus discursos durante a campanha no segundo turno em busca de eleitores de centro e aqueles que nos últimos anos decidiram se abster de votar, fenômeno que se agravou após a implantação do voto voluntário em 2012.

"No Chile, normalizou-se uma situação que deveria ser preocupante para qualquer sistema democrático: nas últimas eleições, metade do país não participou", explicou à AFP Marcelo Mella, analista da Universidade de Santiago.

No primeiro turno, a participação chegou a 47%.

"Um amplo setor do país tem a percepção de que as instituições democráticas e o sistema democrático não resolvem os problemas a tempo", acrescentou Mella, explicando que a abstenção ocorre principalmente em setores das classes média e popular.

"Eu não acredito no Kast. Ele é uma pessoa dura e eu não compartilho seus ideais de vida porque ele é muito conservador; mas Boric me assusta um pouco e não me convence quando se apresenta agora como um social-democrata, quando sempre esteve envolvido em coisas muito extremas", criticou a bancária Magdalena Morales, de 32 anos, ao revelar que votará nulo neste domingo.


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