Jornal Estado de Minas

LONDRES

Johnson sofre dura derrota em reduto conservador inglês

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, sofreu um duro revés depois que o Partido Conservador perdeu um reduto histórico em uma eleição parcial que pode provocar dúvidas importantes sobre sua liderança dentro da formação.



Diante de vários escândalos e uma queda de popularidade na opinião pública e em seu próprio partido, Johnson enfrentou uma espécie de plebiscito na eleição da circunscrição rural de North Shropshire.

Sempre controlada por seu partido, a circunscrição de apenas 80.000 eleitores passou na votação de quinta-feira ao Partido Liberal-Democrata, cuja candidata Helen Morgan venceu com quase 6.000 votos a mais que o representante conservador, segundo os resultados oficiais anunciados nesta sexta-feira.

Morgan recebeu 17.957 votos, 46,3% do total, enquanto o candidato conservador Neil Shastri-Hurst recebeu 12.032. O Partido Conservador dominou a circunscrição de North Shropshire durante quase 200 anos.

O resultado pode agravar o descontentamento no partido a respeito de Johnson, que enfrentou uma rebelião de 25% da bancada conservadora (99 de 361 deputados) na terça-feira na votação das novas restrições contra a covid.

Em plena onda da pandemia, com um recorde de contágios registrado na quinta-feira (mais de 88.000), Johnson precisou do apoio da oposição trabalhista para conseguir aprovar as novas medidas restritivas.

A candidata vencedora na circunscrição afirmou que os eleitores enviaram uma mensagem "clara" a Johnson de que "o jogo acabou".



Helen Morgan sucede Owen Paterson, que representava a circunscrição desde 1997 e venceu por maioria as eleições de 2019.

Paterson foi obrigado a renunciar recentemente, depois de ter sido acusado de pressionar integrantes do governo de Johnson para defender os interesses de duas empresas para as quais atuava como consultor remunerado, um escândalo que afetou o primeiro-ministro.

A derrota conservadora era considerada uma grande possibilidade.

Antes do anúncio do resultado, o deputado conservador Edward Timpson reconheceu ao canal Sky News que seria "uma noite muito difícil para o partido".

E um porta-voz liberal-democrata previu um "desastre" para Johnson na eleição, que teve uma participação reduzida de 46,3%, longe dos 62,9% registrados em 2019.

Agora, o primeiro-ministro pode ser ameaçado pelo envio de cartas de desconfiança dos membros do partido, um trâmite necessário para desencadear uma votação interna para afastá-lo da liderança.

O jornal conservador The Daily Telegraph informa que "alguns deputados sugeriram de maneira privada que a perda de North Shropshire seria o último prego no caixão da liderança de Johnson".



E se perder a liderança do partido, Johnson teria que deixar também Downing Street, como aconteceu com sua antecessora Theresa May em 2019.

- Doses de reforço para popularidade -

A situação é diametralmente oposta ao mês de maio, quando os conservadores, que estavam com grande popularidade graças ao sucesso da campanha de vacinação contra a covid-19, arrebataram da oposição trabalhista seu histórico reduto de Hartlepool, na região nordeste da Inglaterra.

Agora o coronavírus volta a ser uma grande preocupação entre os britânicos, que a poucos dias das festas de Natal observam cada vez mais eventos cancelados e receberam a recomendação de limitar as interações diante da disparada sem precedentes de casos.

Para evitar que os hospitais entrem em colapso, o governo Johnson estabeleceu a meta gigantesca de oferecer uma dose de reforço da vacina contra a covid a todos os adultos até o fim de ano.

O desafio logístico implica um milhão de injeções por dia e mais centros de vacinação foram abertos - com funcionamento por mais horas. Mas nada garante que, mesmo que a meta seja alcançada, isto será suficiente para devolver ao líder conservador a popularidade perdida.

audima