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Estado de Minas SÃO PAULO

A nova vida de cantor do ex-goleiro da Chapecoense, cinco anos após a tragédia


29/11/2021 21:01

Ele lembra de quando o motor parou e tudo ficou escuro; segundos depois, sentiu a chuva fria em seu corpo e uma dor intensa. Em um lapso de consciência, gritou por socorro até que viu um flash de lanterna através dos destroços do avião.

Cinco anos se passaram desde a madrugada de 29 de novembro, quando Jakson Follmann, hoje com 29 anos, salvou sua vida por um milagre. O avião que o levava com o restante da delegação da Chapecoense para a final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional caiu perto de Medellín, na Colômbia, após ficar sem combustível, matando 71 pessoas.

"Tinha duas opções: ficar de luto ou levantar a cabeça e encarar a vida (...) tive que me desconstruir para me reconstruir com muita paciência", diz em uma entrevista à AFP o ex-goleiro catarinense, que perdeu 19 companheiros, parte da perna direita e quase toda a mobilidade do tornozelo esquerdo no acidente.

Com sua carreira futebolística interrompida aos 24 anos, Follmann se reinventou como palestrante motivacional e cantor.

"Desde pequeno sempre tive dois grandes sonhos: me tornar jogador de futebol e veio primeiro essa oportunidade. E quis o destino que aconteceu tudo o que aconteceu, e agora estou realizando o meu segundo sonho também, dentro da música", conta Follmann, que lançou quatro canções.

Nos dois meses que passou no hospital se recuperando de 13 fraturas - incluindo dois ferimentos graves nas vértebras cervicais - ele se agarrou à música e à fé, convencido de que Deus tinha "algo reservado" para ele.

A tatuagem em seu braço direito o mostra com a camisa da Chapecoense, subindo uma escada em direção à Terra com a prótese, com a bênção do Espírito Santo em forma de pomba.

Em sua nova vida, o ex-goleiro, um dos seis sobreviventes, trocou torcida por público e campo por palco. Em 2019, venceu o reality show "Popstar", onde revelou seu talento cantando canções do sertanejo.

- Treinar, também na música -

Follmann iniciou sua carreira esportiva no Grêmio, foi convocado para a seleção brasileira Sub-20 e passou por outras três equipes locais antes de chegar à 'Chape' em 2016.

Após o acidente, o clube ficou devastado e com problemas financeiros. Incapaz de manter a regularidade, ocupa a última colocação na tabela do atual Brasileirão, já rebaixado para a Série B.

Follmann disputou apenas uma partida oficial pela Chapecoense, mas foi embaixador do clube até março passado, quando se mudou para São Paulo.

"A história com a instituição ela nunca se apaga, é muito forte, Nunca vou me afastar do futebol", diz o ex-goleiro, que se tornou um torcedor.

Dos outros dois jogadores sobreviventes, Neto e Alan Ruschel, apenas este último conseguiu continuar jogando e atualmente faz parte do elenco do América-MG na Série A.

Em sua faceta musical, Follmann também teve que enfrentar desafios: uma operação após o acidente afetou suas cordas vocais e exige cuidados. "No futebol eu treinava todos os dias, a musica não é diferente, a gente precisa treinar".

E ele se entusiasma: "Procuro tocar as pessoas porque realmente a música transforma vidas, ela transformou minha vida".

- Mensagem otimista -

As investigações sobre a catástrofe ocorreram em vários países e uma comissão parlamentar do Senado brasileiro investiga a falta de indenização a familiares.

Follmann publicará em breve um livro biográfico e de autoajuda. Contar sua história como palestrante em eventos corporativos, diz ele, ajudou a transformá-la em uma mensagem de otimismo e superação.

"No dia anterior à nossa viagem estava todo mundo feliz. Sonhando, motivados para ir em busca desse titulo, cheios de esperança. Todo mundo bem profissionalmente, pessoalmente... E da noite para o dia, você acaba perdendo todos os amigos, eu perco meu principal instrumento de trabalho", lembra ele.

"Meu maior sonho depois do que aconteceu era poder ficar em pé, poder caminhar, uma coisa tão simples que a gente faz", afirma o ex-goleiro.

O ex-atleta costuma usar a prótese exposta e brinca sobre isso nas redes sociais. "As limitações estão muito na nossa cabeça".

Cinco anos após um acidente que abalou o mundo, Follmann repete o que não é mais um clichê para ele: "O principal pensamento é a gente tocar a vida, viver intensamente cada dia como se fosse o último".


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