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Estado de Minas BOGOTÁ

Colômbia lembra com promessas renovadas os cinco anos da paz com as Farc


24/11/2021 20:46 - atualizado 24/11/2021 20:50

Em novembro de 2016 começou a se extinguir um dos conflitos mais cruéis da América. A Colômbia relembrou, nesta quarta-feira (24), os cinco anos do acordo que desarmou as Farc, com um encontro inédito entre protagonistas e críticos, na presença do secretário-geral da ONU.

Pela primeira vez, estiveram no mesmo local os signatários da paz, as vítimas, o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o presidente Iván Duque, que tentou em vão modificar o acordo.

A presença do presidente, que sempre criticou os benefícios obtidos pelos guerrilheiros envolvidos em crimes atrozes, encheu de simbolismo o ato realizado na sede da Jurisdição Especial para a Paz (JEP).

Surgido do acordo, este tribunal julga os piores crimes de um conflito cometidos em um conflito de mais de meio século, que deixa nove milhões de vítimas entre mortos, mutilados, sequestrados e desaparecidos.

"Insistimos em pedir perdão às vítimas de nossas ações durante o conflito, a compressão de sua dor cresce diariamente em nós e nos enche de aflição e vergonha", disse Rodrigo Londoño, o ex-comandante das extintas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Também conhecido como Timochenko, Londoño renovou o compromisso da grande maioria dos 13.000 homens e mulheres que se mantêm fiéis aos acordos de paz após entregarem os fuzis, e apesar da violência contra os ex-combatentes. Quase 300 foram assassinados desde 2016.

"Nada nem ninguém poderá minar nossa convicção de que o caminho empreendido é o correto", defendeu o também presidente do Comuns, partido de esquerda que surgiu do desarmamento.

Diana Martínez, filha de um eletricista que desapareceu em 2002 em poder dos rebeldes, pediu mais apoio para localizar os desaparecidos e lamentou que ainda não se possa falar efetivamente em um "pós-conflito".

Mas, "diante de tanta adversidade, continuamos aqui sonhando", disse ela.

Exceto pelo encontro na JEP e pela apresentação de um coral com filhos de ex-combatentes que nasceram após o acordo, o quinto aniversário da paz com as Farc não gerou maior entusiasmo nos colombianos.

- Trem em curso -

Em seu discurso, o ex-presidente Juan Manuel Santos (2010-2018), que obteve o Prêmio Nobel da Paz por se sentar à mesa de negociações com uma guerrilha contra a qual primeiro havia agido militarmente, ofereceu um balanço "positivo" dos cinco anos do acordo que assinou junto a Londoño.

"O trem da paz que tantos e tantas quiseram descarrilar ou deter segue seu caminho, segue avançando", afirmou Santos, antes de elogiar com "satisfação" o gesto de Duque, um de seus maiores adversários políticos.

"O presidente Duque subiu no trem da paz como vimos com muita satisfação recentemente", destacou.

Mais tarde, apareceu sorridente ao lado de Londoño, compartilhando duas cervejas fabricadas por ex-combatentes no bar 'La Casa de la paz', em Bogotá.

Em essência, o acordo permitiu que uma força de origem camponesa armada sob influência do comunismo, em plena Guerra Fria, entregasse seus fuzis em troca de poder exercer a política e ter por um tempo uma representação mínima no Congresso sem disputar eleições.

Além disso, contém reformas políticas e agrárias - a propriedade da terra esteve na origem da guerra interna - e fórmulas contra o narcotráfico, que teoricamente deverão ser concluídas até 2031.

Embora tenha reduzido significativamente a violência, o pacto com as antigas Farc não apagou completamente o conflito.

O narcotráfico e o garimpo ilegal alimentam novas ou antigas forças que, em seu conjunto, reúnem cerca de 10.000 membros e assassinaram dezenas de ex-combatentes, ativistas de direitos humanos e indígenas nas zonas rurais da Colômbia.

Cinco anos depois, o acordo foi dividindo um país onde pouco mais de 50% de seus cidadãos rejeitou em um plebiscito o texto negociado em Cuba, o que obrigou as partes a fazerem ajustes antes de assiná-lo com o apoio da ONU.

- Os riscos -

Nesta quarta, o secretário-geral das Nações Unidas voltou a advertir para os "riscos para a paz", que representam "os grupos armados em conexão com o narcotráfico".

Também pediu para "redobrar os esforços de proteção" dos ex-guerrilheiros "para assegurar-lhes esta segunda chance na vida".

O presidente Duque, por sua vez, defendeu uma "verdade total" e "não adaptada" para as vítimas.

Alvo frequente das críticas da direita representada por Duque, a JEP prepara as primeiras sentenças contra o antigo comando rebelde por mais de 21.000 sequestros. Também julga militares por cerca de 6.400 execuções de civis que foram apresentados como mortos em combate para aumentar seus resultados na luta contra a guerrilha.

O acordo de paz estabelece que quem confessar seus crimes deve indenizar suas vítimas e se comprometer a nunca mais exercer a violência poderá receber penas alternativas à prisão. Caso contrário, pode enfrentar penas de até 20 anos.

"Todos os aqui presentes queremos ver uma justiça efetiva, oportuna, real", insistiu Duque.

Os governos dos Estados Unidos e de Cuba também enviaram mensagens de apoio ao acordo de paz na Colômbia.


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