Segundo o censo de 2020, nos Estados Unidos vivem 62,1 milhões de hispânicos e, para muitos deles, o Reconstruir Melhor ('Build Back Better', em inglês), um gigantesco plano de investimento de 1,8 trilhão de dólares, é uma dádiva.
O plano inclui reformas educativas, sanitárias, ecológicas, de atenção à infância e também uma seção sobre imigração que pode favorecer milhões de pessoas em situação irregular. O projeto foi aprovado na sexta-feira (19) pela Câmara dos Representantes, mas sua tramitação no Senado - onde espera-se que seja submetido à votação em dezembro ou janeiro - não deverá ser simples.
Segundo a Casa Branca, o objetivo do Reconstruir Melhor é gerar emprego, reduzir custos, melhorar a competitividade e ajudar a classe média e trabalhadora, à qual pertencem muitos latinos, além de fortalecer a luta contra as mudanças climáticas.
É muito importante "para uma comunidade latina que trabalha duro, mas não tem muita renda", declarou nesta segunda-feira (22) Xavier Becerra, secretário de Saúde e Serviços Humanos do governo.
Segundo uma pesquisa do instituto BSP Research, patrocinada pela organização Climate Power, 87% dos latinos nos EUA apoiam o plano porque estão preocupados com a mudança climática.
Muitos deles já estão sofrendo as consequências: "desde trabalhar durante horas em condições climáticas perigosas, até pagar custos de energia mais altos ou viver em áreas mais propensas a desastres climáticos", segundo a Climate Power.
- Tramitação no Senado -
O Senado, no entanto, poderá fazer mudanças no projeto de lei e devolvê-lo à Câmara. Dividido meio a meio, tanto os 50 republicanos como dois senadores centristas - entre os 50 democratas - estão reticentes em aceitar 100% do texto, por medo de uma escalada da dívida em um contexto de aumento da inflação.
Porém, segundo Pili Tobar, vice-diretora de Comunicação da Casa Branca, o plano pode ser facilmente financiado se "os americanos e as grandes corporações pagarem sua parte justa" nos impostos federais.
Em um projeto de lei normal, seriam necessários 60 votos de 100 para sua aprovação no Senado, algo impensável com a atual composição da Casa. Assim, Biden recorreu ao chamado processo de reconciliação orçamentária, para o qual basta a maioria simples de 51 votos.
Nesse sentido, o presidente ainda precisa convencer os dois senadores centristas do Partido Democrata, para depois somar com o voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris e chegar aos 51.
Há consenso sobre a maior parte das medidas do plano, mas a seção que trata da questão migratória, uma das principais promessas de campanha de Biden, pode ficar de fora do 'Build Back Better'.
- Cidadania, uma via-crúcis -
Durante a campanha presidencial, Biden prometeu a cidadania para 11 milhões de imigrantes irregulares. Ele já tentou abrir caminho duas vezes para cumprir sua palavra, mas acabou parando nas duas em Elizabeth MacDonough, encarregada de interpretar o regimento do Senado e que considera que este tema não tem lugar no 'Build Back Better'.
Agora, em sua terceira tentativa, Biden deu um passo atrás e já não fala mais em cidadania. Se o Senado aceitar incluir o trecho, cerca de 7 milhões de imigrantes irregulares poderão solicitar permissões para trabalhar, viajar ao exterior e tirar carteira de motorista. Além disso, ficarão protegidos contra a deportação por um período de até dez anos.
A deputada progressista Alexandria Ocasio-Cortez encabeçou uma carta na qual mais de 80 integrantes da Câmara pedem ao Senado que não desperdice "esta oportunidade única em uma geração".
WASHINGTON