Jornal Estado de Minas

ESTOCOLMO

Estudo situa pela primeira vez os EUA entre as 'democracias em retrocesso'

Os Estados Unidos aparecem pela primeira vez na lista das "democracias em retrocesso", principalmente devido à deterioração durante a segunda metade do mandato do ex-presidente Donald Trump, segundo um informe sobre a democracia no mundo, que será publicado nesta segunda-feira (22).



Mais de um quarto da população mundial vive agora em democracias em retrocesso e seriam cerca de 70% se forem somados os regimes autoritários ou "híbridos", com uma tendência à degradação democrática contínua desde 2016, segundo o relatório anual da organização International IDEA, com sede em Estocolmo.

Atualizada a cada ano, sua lista das democracias em retrocesso já incluía Índia, Brasil, Filipinas e dois países da União Europeia: Polônia e Hungria. Um terceiro país europeu, a Eslovênia, foi acrescentado este ano.

Embora os Estados Unidos continuem sendo "uma democracia de alto nível", o retrocesso americano está relacionado com a redução dos indicadores do país em questão de "liberdades civis e de controles do governo", informou à AFP Alexander Hudson, um dos coautores do estudo.

A International IDEA cita especialmente a "guinada histórica" dos questionamentos eleitorais das presidenciais de novembro de 2020 por Donald Trump e "a redução das investigações do Congresso sobre a ação do presidente entre 2018 e 2020".

"Classificamos os Estados Unidos como 'em retrocesso' pela primeira vez este ano, mas nossos dados sugerem que o episódio da deterioração começou pelo menos em 2019", destaca Hudson.



Cobrindo meio século de indicadores democráticos e acompanhando a maioria dos países do mundo (cerca de 160), a International IDEA os classifica em três categorias: democracia (entre eles "democracia em retrocesso"), regimes "híbridos" e regimes autoritários.

"A deterioração visível da democracia nos Estados Unidos é demonstrada pela tendência crescente em questionar os resultados eleitorais confiáveis, os esforços para suprimir a participação e a polarização galopante (...), que é uma das evoluções mais preocupantes para a democracia em escala mundial", declarou à AFP o secretário-geral da International IDEA, Kevin Casas-Zamora.

O número de países onde a democracia é considerada em retrocesso dobrou em uma década para sete.

Dois países que constavam da lista no ano passado - Ucrânia e Macedônia do Norte - saíram dela, pois a situação melhorou. Outros dois, Mali e Sérvia, foram excluídos, pois não são considerados democráticos.



Pelo quinto ano consecutivo, em 2020, o número de países que se dirigem para o autoritarismo superou o de países em fase de democratização.

Uma situação inédita desde o início da coleta de dados pela organização nos anos 1970 e que deve continuar em 2021.

- Mianmar, Afeganistão, Mali -

Mianmar recuará do nível de democracia para o de regime autoritário, enquanto o Afeganistão e o Mali passarão do nível de regimes híbridos ao de regimes autoritários.

A Zâmbia, agora classificada como democracia, é o único país que mudou positivamente de categoria este ano.

Para 2021, a pontuação provisória da International IDEA registra 98 democracias, o número mais baixo em vários anos, 20 regimes "híbridos", entre eles Rússia, Marrocos e Turquia, e 47 regimes autoritários, entre os quais estão China, Arábia Saudita, Etiópia e Irã.



Somando as democracias em retrocesso e os regimes híbridos e autoritários, "chega-se a 70% da população mundial. Isso mostra que algo grave ocorre no que se refere à qualidade democrática", destacou Casas-Zamora.

A International IDEA confirmou suas conclusões do ano passado, segundo as quais mais de seis em dez países aplicaram medidas problemáticas para os direitos humanos ou o respeito às regras democráticas frente à covid-19 porque eram "ilegais, desproporcionais, sem limite de tempo ou supérfluas".

Mais de nove regimes autoritários em dez estão envolvidos nestes atos, embora mais de 40% das democracias também o estejam.

"A pandemia claramente acelerou algumas tendências negativas, especialmente nos países onde a democracia e o Estado de direito sofrem desde antes", segundo Casas-Zamora.

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