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Estado de Minas NAD-E 'ALI

Limpar as minas do Afeganistão, uma tarefa delicada e arriscada


18/11/2021 08:42

Semanas depois da tomada de poder do Talibã no Afeganistão, as famílias que fugiram dos combates em um vilarejo no sul do país retornaram para suas casas e perceberam algo estranho: o campo de críquete havia sido cercado por pedras pintadas de vermelho ou branco.

Mais tarde, aprenderam que branco significa que é seguro para as crianças brincar, mas vermelho é um sinal de minas terrestres, remanescentes de uma guerra que matou ou mutilou dezenas de milhares de afegãos nas últimas quatro décadas.

O vilarejo de Nad-e'Ali, na província de Hemland, foi a linha de frente dos últimos dias da guerra entre o Talibã e as forças governamentais apoiadas pelo Ocidente.

O local permaneceu sitiado por dois meses até que os fundamentalistas islâmicos assumiram o controle do país em agosto.

Quando os moradores voltaram em setembro, encontraram a escola perfurada por balas, o telhado escurecido pela fumaça e o balanço reduzido a uma estrutura de metal.

Também descobriram que a área havia sido "completamente crivada de minas" durante os combates, de acordo com Juma Khan, coordenador local da HALO Trust, a principal ONG de desminagem no Afeganistão.

Minas terrestres e outras armadilhas explosivas foram colocadas sob as portas dos edifícios.

"Os cômodos internos tinham minas e havia minas na rua principal", disse Khan à AFP durante uma recente visita a Nad-e'Ali.

Cerca de 41.000 civis afegãos foram mortos ou feridos por minas e artefatos não detonados desde 1988, de acordo com o Serviço de Ação contra Minas da ONU (UNMAS).

Mais de dois terços das vítimas eram crianças, muitas das quais viram os dispositivos enquanto brincavam e os pegaram.

A HALO Trust foi fundada em 1988 para lidar com a artilharia remanescente da ocupação soviética do Afeganistão.

O país estava tão contaminado que a limpeza nunca foi concluída, nem mesmo após a assinatura, em 1997, de um tratado internacional proibindo o uso de minas terrestres, ratificado pelo Afeganistão em 2002.

Anos depois, com as batalhas que levaram à tomada do poder pelo Talibã, voltaram a aparecer minas e artefatos explosivos improvisados, tanto dos islâmicos quanto de seus adversários.

- Novas explosões -

A HALO chegou a um acordo com as novas autoridades talibãs em setembro para que seus mais de 2.500 funcionários pudessem retornar ao trabalho.

Em Nad-e'Ali, combatentes do Talibã agora guiam o pessoal da HALO para encontrar as minas que eles colocaram.

Como moram no vilarejo e não querem ser responsabilizados pela morte de civis, os talibãs "as tiravam com as próprias mãos, mas os paramos para evitar novas detonações", disse Khan.

Mas mesmo com o esforço de retirada das minas, as explosões já causaram baixas entre os moradores.

Há dois meses, a esposa de um professor local perdeu as duas pernas quando um artefato explosivo detonou no momento em que ela abriu a porta de sua casa. "Este incidente foi muito doloroso. Eu vi acontecer com meus próprios olhos", contou o professor Bismilah.

"Eu vi meus filhos gritando e chorando (...) Estou sozinho e o estresse é muito, muito grande", lamentou.

Desde então, o vilarejo e sua escola foram classificados como de "alta prioridade" para desminagem.

A HALO colocou as pedras brancas e vermelhas para marcar áreas seguras para suas dez equipes de oito sapadores, que examinam cuidadosamente o solo com detectores de metal.

"Quando detecta metal, uma bateria ou qualquer outra coisa, soa um alarme. Marcamos a área e começamos a cavar com cuidado", explicou o supervisor Bahramudin Ahmadi.

"Assim que vemos a mina, avisamos a equipe de retirada de minas e a segurança local, porque eles têm que limpar a área e depois a detonamos", explicou.

Nos últimos três meses, as equipes desativaram 102 artefatos explosivos na região, incluindo 25 na aldeia, mas acredita-se que isso seja apenas uma fração do que permanece enterrado ou escondido em algumas casas.

Para a HALO, "descontaminar" um dos países com mais minas do mundo é uma corrida contra o tempo no Afeganistão do pós-guerra.

A prioridade é proteger as crianças, e os funcionários da HALO em Nad-e'Ali alertam claramente sobre os perigos.

"Por favor, entendam, se perderem uma perna, saibam o quanto custará aos seus pais e, se morrerem, será muita tristeza", disse Nazifullah, gerente do programa HALO, a um grupo de crianças sentadas no chão.

"O que devem fazer quando encontram isso?", perguntou a eles, apontando para a foto de uma mina terrestre.

"Vou contar imediatamente para minha família, meu irmão ou o imã da mesquita", respondeu Nazia, de oito anos.

"Tenho medo, mas sei que quando vejo pedras brancas podemos brincar, mas quando são vermelhas, não podemos", acrescentou.


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