Em reação, Bolsonaro celebrou o fato de a prova começar "a ter cara do governo", conforme afirmou ontem durante visita oficial a Dubai, nos Emirados Árabes. A declaração gerou protestos, e vários deputados anunciaram nesta terça-feira que pretendem convocar o ministro da Educação, Milton Ribeiro, para dar explicações.
Na semana passada, 37 funcionários do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela organização do Enem, renunciaram a seus cargos. Mas a polêmica explodiu ontem, quando alguns deles falaram anonimamente ao programa "Fantástico", da TV Globo.
Ao ser questionada se o conteúdo da prova sofreu censura, uma funcionária do Inep respondeu: "Censura." Outros denunciaram "pressões insuportáveis" e "assédio moral".
O ministro da Educação negou ontem as denúncias e defendeu que as questões tenham um caráter "técnico, e não ideológico. Nem de esquerda, nem de direita". O presidente "nunca me pediu nem me sugeriu nada", afirmou ao canal de TV CNN Brasil. "Não há como interferir. A ideia de que houve interferência é uma narrativa de quem quer politizar a educação. A educação não tem partido."
Após ser eleito, em novembro de 2018, Bolsonaro criticou uma questão do exame que citava a comunidade LGBT. "Podem ter certeza e ficar tranquilos. Não vai ter questão desta forma ano que vem, porque nós vamos tomar conhecimento da prova antes", disse na época.
Em janeiro, o presidente também criticou uma questão sobre a diferença salarial entre duas estrelas do futebol brasileiro, Neymar, atacante do PSG, e Marta, seis vezes a melhor jogadora do mundo.
"Tem questões ali ridículas ainda, comparando mulher jogando futebol e homem, por que a Marta ganha menos que o Neymar. Não tem que ter comparação. O futebol feminino ainda não é uma realidade no Brasil", afirmou Bolsonaro.
Mais de três milhões de alunos estão inscritos no Enem 2021, a ser realizado entre os dias 21 e 28 de novembro.
RIO DE JANEIRO