Após os reveses da gigante Evergrande, as dificuldades do setor imobiliário na China podem representar riscos para a economia mundial e afetar os Estados Unidos, alertou o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), em seu relatório de estabilidade financeira divulgado na segunda-feira(8).
Isso representa uma mudança de tom em relação a setembro, quando o presidente do Fed, Jerome Powell, ainda julgava que a maior economia do mundo "não estava realmente exposta diretamente" às dificuldades da sociedade chinesa.
A Evergrande, que tem uma dívida estimada em 260 bilhões de euros, é um dos maiores impulsionadores da China. Sua situação financeira é observada de perto, porque seu colapso seria um duro golpe para o crescimento do gigante asiático. O setor imobiliário é responsável por 25%-30% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, de acordo com as estimativas.
No terceiro trimestre, o PIB, afetado pela crise da Evergrande, cresceu 4,9% em um ano, frente a 7,9% no segundo trimestre.
"Até agora, o desastre da Evergrande foi contido", enfatiza o diretor de pesquisa do ING Financial Markets, Padhraic Garvey, reconhecendo, no entanto, que também existem "riscos desconhecidos".
Ele acrescentou que o Fed não pode ignorar que "a China é uma parte importante, dado seu tamanho e o tamanho de seu setor financeiro".
Em outubro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para baixo suas projeções de expansão para a China, em 8% (-0,1%). Sua economista-chefe, Gita Gopinath, destacou que a instituição observa com "muita atenção" a evolução da crise da Evergrande.
O FMI espera que o PIB mundial cresça 5,9% este ano. Em julho, esta estimativa era 6%.
Além da crise imobiliária, muitos economistas antecipam a desaceleração da segunda maior potência econômica mundial, já que o governo chinês, ansioso por reduzir a dívida, desacelera os investimentos das autoridades locais e aperta as condições para empréstimos dos bancos.
- "Apagão dos motores" -
Nesse cenário, a China experimentará um crescimento médio de cerca de 3,5% na próxima década (2022-2031), ou cerca de metade da taxa de crescimento da década de 2010, de acordo com as projeções do Conference Board divulgadas esta semana.
O grupo de pesquisa dos EUA estima que a economia chinesa se estabelecerá em uma trajetória de desaceleração do crescimento "lenta e prolongada" na próxima década.
Ainda assim, "a desaceleração econômica na China representa uma espécie de desligamento do motor na economia mundial", diz o economista Gregory Daco, da Oxford Economics.
"Por enquanto, a dinâmica permanece favorável", esclarece, em especial porque a desaceleração na China é parcialmente compensada por "um crescimento relativamente robusto nos Estados Unidos" e na Europa.
"Estamos presenciando uma espécie de efeito pêndulo que permitiu evitar uma desaceleração acentuada no terceiro trimestre da economia mundial", e esse efeito, sem dúvida, continuará até o final do ano, antecipa Daco.
No longo prazo, a inevitável desaceleração do crescimento chinês, também associada ao envelhecimento de sua população, permitirá que as cartas sejam redistribuídas.
Países hoje altamente dependentes da China, como Indonésia, Vietnã e Tailândia, devem pesar mais na economia mundial, assim como a Índia.
Quanto à América Latina, "tudo dependerá da estabilidade política", enfatiza Daco.
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