Yacine Mihoub, de 31 anos, e Alex Carrimbacus, 25, compareceram ao tribunal do Palácio da Justiça da capital francesa. Os réus, que se conheceram na prisão, culpam-se mutuamente pelo homicídio.
"Seria um milagre a verdade sair de suas bocas", disse Gilles-William Goldnadel, advogado dos filhos de Mireille Knoll, antes de entrar na sala com seus clientes.
Mas o "expediente é condenatório", declarou, falando de um caso "vil" de "antissemitismo".
Em 23 de março de 2018, os bombeiros foram chamados a um prédio modesto no leste de Paris para apagar um incêndio.
Quando chegaram ao segundo andar, descobriram o corpo parcialmente carbonizado de Knoll, com as pernas penduradas sobre sua cama médica.
A mulher de 85 anos, que sofria de Parkinson e não conseguia se mover sozinha, foi esfaqueada 11 vezes, a maioria na garganta.
A investigação revelou rapidamente que Mihoub e Carrimbacus estavam na cena do crime. Mas, o que aconteceu no pequeno apartamento permanece obscuro, uma vez que as versões de ambos se contradizem.
Carrimbacus, um sem-teto com histórico psiquiátrico, afirma que Mihoub o chamou para um esquema para ganhar dinheiro. Por sua vez, Mihoub, filho de um vizinho que conhecia Knoll desde criança, garante que simplesmente o chamou para "passar bons momentos".
Na cena do crime, segundo Carrimbacus, a discussão aumentou quando Mihoub acusou Knoll de tê-lo mandado para a prisão. Ele a levou para seu quarto e a "esfaqueou" gritando "Allah Akbar" (Deus é o maior), uma expressão da fé muçulmana.
Já Mihoub conta que Carrimbacus tentou roubar Knoll, perguntando se a mulher tinha dinheiro. Então, Mihoub ouviu um grito vindo do quarto e viu Carrimbacus esfaqueando-a.
Ao mesmo tempo, cada um acusa o outro de ter posto fogo na casa.
Duas versões "pouco credíveis", consideram os investigadores, cuja tarefa é complicada pela propensão de Mihoub e Carrimbacus a "mentir" e "manipular".
Os dois homens foram condenados várias vezes por roubo e violência. A mãe de Mihoub, acusada de ter limpado a faca do crime, comparece ao julgamento, livre, ao seu lado.
Os juízes de investigação optaram por manter o caráter antissemita após um interrogatório de Carrimbacus, que disse "acreditar ter ouvido" Mihoub "falar sobre os meios econômicos dos judeus, sua boa situação" e Knoll dizendo-lhe "que nem todos os judeus tinham uma boa situação".
A investigação também mostrou "a ambivalência de Mihoub em face do terrorismo islâmico que notavelmente defende o antissemitismo", disseram os juízes, embora tenham especificado que ninguém nunca o ouviu fazer comentários antissemitas.
O crime, que ocorreu um ano após o assassinato em Paris de Sarah Halimi, uma judia de 60 anos jogada de sua varanda, desencadeou uma grande "marcha branca" em Paris e reacendeu o debate sobre um "novo antissemitismo" ligado à islamização de alguns bairros.
Mireille Knoll foi assassinada "por ser judia", declarou o presidente Emmanuel Macron na época, uma indignação compartilhada em particular nos Estados Unidos e em Israel, pelo destino desta mulher que fugiu de Paris em 1942 para escapar de ataques antissemitas.
O julgamento está previsto para terminar em 10 de novembro.
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